31 de outubro de 2024

Circunstâncias Espirituais

Por O Redator Espírita
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Circunstâncias Espirituais: A Influência dos Espíritos nas Provações da Vida

A Doutrina Espírita nos ensina que estamos em constante interação com o mundo espiritual. Essa relação não se limita às inspirações dos Espíritos benevolentes que nos guiam e nos orientam no caminho do bem, mas também envolve Espíritos que, por sua própria ignorância e inferioridade, tentam nos induzir ao erro. Em sua obra, O Livro dos Espíritos, Allan Kardec aborda essa questão em diversas perguntas e respostas, esclarecendo como os Espíritos podem interferir em nossa vida diária e quais são as defesas que podemos adotar para nos protegermos dessas influências.

Neste artigo, vamos aprofundar o estudo da pergunta 472 de O Livro dos Espíritos e refletir sobre a importância de estarmos atentos às circunstâncias espirituais que cercam nossas existências. Além disso, traremos à luz as orientações do espírito Miramez, contidas na obra Filosofia Espírita, sobre o papel dessas circunstâncias no processo de evolução espiritual e como devemos lidar com as influências negativas, que muitas vezes criam condições propícias para nossas quedas morais.

A Natureza das Influências Espirituais

A pergunta 472 de O Livro dos Espíritos é uma das mais profundas quando tratamos das influências negativas que podem nos atingir. Ela questiona:

“Os Espíritos que procuram atrair-nos para o mal se limitam a aproveitar as circunstâncias em que nos achamos, ou podem também criá-las?”

A resposta dos Espíritos Superiores é clara e objetiva:

“Aproveitam as circunstâncias ocorrentes, mas também costumam criá-las, impelindo-vos, mau grado vosso, para aquilo que cobiçais. Assim, por exemplo, encontra um homem, no seu caminho, certa quantia. Não penses tenham sido os Espíritos que a trouxeram para ali. Mas, eles podem inspirar ao homem a ideia de tomar aquela direção e sugerir-lhe depois a de se apoderar da importância achada, enquanto outros lhe sugerem a de restituir o dinheiro ao seu legítimo dono. O mesmo se dá com relação a todas as demais tentações.”

Essa resposta revela duas importantes realidades da influência espiritual. Primeiramente, os Espíritos inferiores aproveitam-se das nossas fraquezas, inclinando-nos para situações que possam provocar o erro. Segundo, esses Espíritos também têm a capacidade de, até certo ponto, criar circunstâncias que favoreçam nossas quedas, agindo conforme os desejos e inclinações que já residem em nosso íntimo.

Na vida cotidiana, essas influências podem se manifestar de forma sutil, em pensamentos e impulsos que, à primeira vista, parecem completamente nossos. Porém, ao desenvolvermos uma maior sensibilidade e conhecimento espiritual, aprendemos a identificar quando estamos sendo alvos de sugestões externas. A Doutrina Espírita não nos coloca em uma posição de vítimas indefesas dessas influências, mas nos ensina a sermos vigilantes e responsáveis por nossas escolhas.

A Criação de Circunstâncias e a Lei da Sintonia

Um ponto que deve ser ressaltado é o mecanismo pelo qual essas influências acontecem. Os Espíritos que ainda não alcançaram um grau elevado de evolução moral estão, muitas vezes, apegados a sentimentos como inveja, ódio e ciúme. Estes Espíritos, chamados de “imperfeitos” na terminologia espírita, encontram em nós oportunidades para manifestar suas paixões quando nossa vigilância moral se encontra debilitada.

Esses Espíritos podem, como afirma a resposta da pergunta 472, criar circunstâncias que nos induzam ao erro. Não se trata de uma manipulação direta da realidade física, mas de uma inspiração que nos conduz a tomar decisões que nos colocam em situações comprometedoras.

Por exemplo, quando sentimos a tentação de realizar algo que sabemos ser errado, como apropriar-nos de algo que não nos pertence, podemos estar sob influência espiritual. O Espírito não traz o objeto para nossas mãos, mas pode nos conduzir a um lugar onde ele está, despertando em nós a cobiça.

Esse processo acontece porque há uma afinidade entre nossos pensamentos e os desses Espíritos. A lei da sintonia é clara: atraímos para nossa companhia espiritual aqueles que vibram na mesma frequência que nós. Se nos deixamos dominar por pensamentos de orgulho, egoísmo ou avareza, criaremos uma abertura para que Espíritos com essas mesmas características se aproximem e influenciem nosso comportamento.

Da mesma forma, quando buscamos cultivar virtudes como a humildade, o amor ao próximo e a caridade, atraímos para junto de nós Espíritos de elevação moral, que nos ajudam a progredir no caminho do bem.

Miramez: Reflexões sobre as Circunstâncias Espirituais

O Espírito Miramez, em seu comentário intitulado “Circunstâncias”, presente na obra Filosofia Espírita, aprofunda essas reflexões, oferecendo-nos um importante panorama sobre a natureza dessas influências e o modo como podemos enfrentá-las. Ele explica que os Espíritos que nos cercam exercem uma influência maior do que imaginamos, estando em constante troca de ideias conosco, tanto para o bem quanto para o mal.

Miramez observa que os Espíritos de má índole se aproveitam dos momentos de invigilância e falta de oração para criar condições que possam nos fazer cair em suas armadilhas. A ação desses Espíritos não se limita aos encarnados, mas ocorre também no plano espiritual, mostrando que essa batalha interior continua após o desencarne. Ele afirma:

“A Terra se encontra, de certa forma, em uma faixa de inferioridade, e é por causa deste ambiente propício às paixões inferiores que os que se encontram nela são influenciados pelas más tendências.”

Essa afirmação nos lembra de que vivemos em um mundo onde as provas e expiações são necessárias para o nosso progresso. A própria atmosfera espiritual da Terra é um campo onde as más influências podem se manifestar com maior intensidade, devido ao estágio evolutivo no qual ainda nos encontramos. No entanto, essa realidade não deve ser motivo de desânimo, mas sim de vigilância constante.

Miramez também enfatiza a importância da pureza de coração como uma defesa eficaz contra essas influências. Quando nossos pensamentos estão alinhados com o bem, criamos um campo de força que repele os Espíritos mal-intencionados. Esse campo de força é alimentado pela prática diária do Evangelho, pela oração sincera e pelo cultivo de virtudes. Como ele sabiamente coloca:

“Para ficarmos livres dessas insinuações de desarmonia, é necessário pureza de coração, que forma, assim, um campo de força capaz de queimar os pensamentos intrusos que se aproximam de nós.”

Miramez – Filosofia Espírita

A Luta Constante entre o Bem e o Mal

A vida, segundo a Doutrina Espírita, é uma luta constante entre o bem e o mal, entre as virtudes que buscamos desenvolver e as imperfeições que ainda carregamos. Nesse campo de batalha, os Espíritos que se ocupam em tentar nos desviar de nosso caminho evolutivo têm um papel específico: testar nossa resistência e nossa força moral. Deus, em sua infinita sabedoria, permite que essas provas aconteçam para que possamos, através delas, exercitar o discernimento e a firmeza de propósito.

Miramez nos convida a refletir sobre o valor dessas provações. Ele afirma que devemos dar graças a Deus pela Doutrina Espírita, que nos auxilia a enfrentar essas dificuldades com o conhecimento necessário para superá-las. Ao entender a origem dessas influências, sabemos que não estamos destinados a cair indefinidamente, mas que temos as ferramentas para resistir e vencer.

Ele destaca que o perdão e a tolerância são virtudes essenciais para lidarmos com os Espíritos que nos influenciam negativamente. Eles, assim como nós, estão em busca do bem, ainda que de forma inconsciente.

Por isso, devemos orar por eles e ajudá-los a encontrar um caminho melhor. A oração, nesse sentido, não apenas fortalece a nossa defesa espiritual, mas também pode auxiliar aqueles que tentam nos influenciar, dissipando as trevas de seus pensamentos e trazendo-lhes uma nova perspectiva.

Vigilância e Oração: As Chaves para a Superação

A vigilância constante e a oração são as principais recomendações de Jesus para nos protegermos das influências espirituais negativas. Estas duas práticas, quando incorporadas ao nosso cotidiano, são como escudos que impedem que os pensamentos intrusos e as tentações se apoderem de nossa vontade.

Miramez reforça esse ponto ao afirmar que, quando os pensamentos inferiores invadirem nossa mente, devemos orar por aqueles que nos sugerem tais ideias, transformando o mal em uma oportunidade de fazer o bem.

O pensamento é uma força poderosa, e ao dirigirmos nossas orações àqueles que nos influenciam negativamente, podemos ajudá-los a elevar-se e, ao mesmo tempo, fortalecer nossa própria capacidade de resistir às tentações. Como Miramez sabiamente conclui:

“Analisa teus pensamentos todas as horas e alinha tuas ideias a todo momento, para não perderes a direção que o amor procura te indicar.”

Conclusão

As circunstâncias espirituais que nos cercam são tanto oportunidades de aprendizado quanto desafios para nossa evolução. Ao entender como os Espíritos imperfeitos nos influenciam, podemos nos preparar melhor para enfrentá-los.

A Doutrina Espírita, com seus ensinamentos profundos sobre a natureza humana e espiritual, nos oferece as ferramentas necessárias para resistir a essas influências e, acima de tudo, para transformar cada tentação em um momento de crescimento.

A compreensão profunda das circunstâncias espirituais nos permite não apenas reconhecer as armadilhas que nos cercam, mas também desenvolver uma postura ativa em nossa defesa espiritual. Ao nos depararmos com situações desafiadoras, é essencial lembrar que essas experiências são oportunidades de aprendizado e crescimento. A vida é um constante exercício de discernimento, onde somos testados para que possamos, gradualmente, fortalecer nosso caráter e expandir nossa capacidade de amar e perdoar.