Exorcismo
Exorcismo: O que nos diz o Espiritismo?
O exorcismo, prática amplamente conhecida e presente em diversas tradições religiosas, é, muitas vezes, visto como uma forma de afastar ou expulsar espíritos malignos que perturbam ou afetam negativamente as pessoas. Contudo, dentro da Doutrina Espírita, esse tema recebe uma abordagem bastante diferenciada, que se distancia dos rituais formais e das fórmulas preestabelecidas, focando, principalmente, na moralidade e nas energias envolvidas no processo.
Para compreender de forma mais profunda essa perspectiva, nos basearemos na pergunta 477 de “O Livro dos Espíritos” e no comentário do espírito Miramez presente na obra “Filosofia Espírita”.
A Pergunta 477 de “O Livro dos Espíritos”
No capítulo sobre a ação dos espíritos sobre o mundo corporal, Allan Kardec, ao abordar o tema do exorcismo, propõe a seguinte pergunta:
Pergunta 477: “As fórmulas de exorcismo têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos?”
Resposta dos Espíritos: “Não. Estes últimos riem e se obstinam, quando veem alguém tomar isso a sério.”
Essa resposta, simples e direta, revela o posicionamento claro dos Espíritos superiores em relação ao uso de fórmulas e rituais externos na tentativa de controlar ou afastar espíritos maléficos. A ideia de que palavras ou gestos poderiam por si sós exercer algum tipo de influência sobre espíritos que se encontram em um estado de inferioridade moral é considerada ineficaz e, em muitos casos, motivo de escárnio por parte dessas entidades. No entanto, há camadas mais profundas a serem exploradas sobre o porquê dessa ineficácia e o que, de fato, pode influenciar as interações com espíritos perturbadores.
A Ineficácia do Ritual
A resposta dos Espíritos à pergunta 477 deixa claro que os rituais e fórmulas de exorcismo não têm poder sobre os espíritos inferiores. E isso se explica pela própria natureza dessas entidades. Espíritos mal-intencionados, com suas vibrações baixas e sua moral ainda em estágio de desenvolvimento, não se deixam afetar por ações exteriores sem substância espiritual. Eles riem dessas tentativas porque não há conexão real entre o ritual e o que é verdadeiramente necessário para afastá-los: uma força moral superior.
O exorcismo, tal como praticado por muitas religiões, é um ritual formal, envolvendo palavras específicas, gestos, e em alguns casos, o uso de objetos ou símbolos sagrados. No entanto, dentro do contexto espírita, a simples repetição de palavras ou a execução de gestos simbólicos não possuem eficácia por si só. A chave para afastar ou neutralizar a ação dos espíritos inferiores está na elevação moral e na pureza dos sentimentos de quem intercede, e da própria pessoa que sofre a influência espiritual.
A Visão de Miramez: O Poder da Moralidade
O espírito Miramez, em seu comentário no livro “Filosofia Espírita”, nos oferece uma visão ainda mais detalhada sobre o exorcismo, reforçando que o verdadeiro poder de afastar espíritos perturbadores não reside nas palavras ou nos rituais, mas sim na moralidade e na força espiritual daqueles que intercedem.
Miramez inicia seu comentário destacando que muitos espíritos, ao observar os rituais de exorcismo, se divertem com o que consideram uma ilusão humana. Esses espíritos, maliciosos e brincalhões, continuam a influenciar negativamente seus alvos, mesmo diante das tentativas de afastá-los com fórmulas ritualísticas. O que falta nesses momentos, conforme Miramez, é uma verdadeira sintonia com o bem, algo que só pode ser alcançado pela retidão de caráter e pela prática sincera da caridade e do amor.
O exorcista, ou seja, aquele que tenta afastar os maus espíritos, precisa estar imbuído de uma fé genuína, que seja fundamentada no amor e na moral elevada. Não é o ato formal que afasta o espírito perturbador, mas a energia que emana de uma conduta moral irrepreensível. Quando um sacerdote ou qualquer outra pessoa intercede com verdadeiro amor e moralidade, seu magnetismo é fortalecido, criando uma barreira natural contra a ação dos espíritos inferiores.
A Força da Sintonia Vibracional
Miramez também nos alerta para o papel da sintonia vibracional nas interações com os espíritos. A questão do exorcismo não é apenas uma questão de afastar o espírito inferior, mas de entender o porquê dessa sintonia entre o espírito e a pessoa que sofre sua influência. A Lei de Afinidade, muito bem explicada na Doutrina Espírita, nos ensina que espíritos são atraídos por pessoas cujas vibrações se alinham com as suas. Ou seja, se uma pessoa se encontra em um estado de pensamentos negativos, moral baixa, ou vícios emocionais, ela se torna mais suscetível à influência de espíritos que compartilham dessa mesma vibração.
Por isso, exorcismos ou qualquer tentativa de afastar um espírito sem que haja uma mudança interna no indivíduo que sofre a influência, são, muitas vezes, inúteis. Mesmo que o espírito seja afastado temporariamente, ele pode voltar, e em muitos casos, trazer outros espíritos com ele, tornando a situação ainda mais complicada.
Isso é exemplificado por Miramez quando ele afirma:
“Ainda mais, o que está sendo exorcizado precisa modificar seus sentimentos, limpar a sua casa mental, porque se não se moralizar, podem os Espíritos que foram retirados voltar de novo, e ainda trazerem outros da mesma natureza em sua companhia; aí, o segundo estágio tomar-se-á pior do que o primeiro.“
Portanto, o processo de afastamento de espíritos inferiores é indissociável da reforma íntima. A pessoa que deseja se livrar da influência espiritual negativa precisa, antes de tudo, limpar a sua própria “casa mental”, como coloca Miramez. Isso envolve a elevação de seus pensamentos, a disciplina de suas emoções, e a busca por uma vida moral mais elevada. Sem essa transformação interna, qualquer alívio obtido será temporário e superficial.
Jesus e a Verdadeira Libertação
Miramez também ressalta o papel de Jesus Cristo como o grande guia para a libertação espiritual. No Evangelho, encontramos a chave para uma vida em harmonia, livre da influência de espíritos perturbadores. Jesus, em seus ensinamentos, nos mostrou o valor da vigilância, da oração e do amor ao próximo. Esses são os elementos essenciais para que possamos nos proteger da ação dos espíritos inferiores.
O homem verdadeiramente cristão, conforme nos diz Miramez, está constantemente vigilante. Ele percebe as sugestões dos espíritos ignorantes, mas, ao invés de ceder a elas, mantém-se firme em sua conduta moral. Ele compreende a importância de manter seus pensamentos disciplinados e suas emoções equilibradas, sabendo que essa é a melhor forma de se libertar das influências negativas.
A prática do bem, a caridade, a benevolência e a oração são os verdadeiros “antídotos” contra a ação dos espíritos inferiores. Não há necessidade de rituais ou fórmulas mágicas, mas sim de um comprometimento sincero com a própria evolução espiritual e com o auxílio ao próximo.
Conclusão: O Exorcismo e o Espiritismo
Diante das reflexões trazidas por Allan Kardec e pelo espírito Miramez, podemos concluir que o Espiritismo não reconhece o exorcismo em sua forma tradicional como um método eficaz para lidar com os espíritos perturbadores. O que realmente importa, e o que verdadeiramente afasta essas entidades, é a força moral daqueles que intercedem e a transformação interior de quem sofre a influência.
A Doutrina Espírita nos ensina que todos somos responsáveis pela nossa própria sintonia vibracional e, consequentemente, pelos tipos de espíritos que atraímos para o nosso convívio. Para aqueles que se encontram sob a influência de espíritos inferiores, o caminho para a libertação está na reforma íntima, no aprimoramento moral e na prática do bem. O auxílio de terceiros, como médiuns ou sacerdotes, só terá efeito se for acompanhado de uma verdadeira mudança interior.
O exorcismo, portanto, é um conceito que, dentro da ótica espírita, se transforma em algo muito mais profundo e complexo do que a simples expulsão de espíritos. Ele se torna um processo de educação e evolução, tanto para o espírito perturbador quanto para a pessoa que sofre a influência, sempre guiado pelo amor, pela caridade e pela fé.