A Verdadeira Propriedade
A Verdadeira Propriedade: Reflexões À Luz do Espiritismo
O conceito de propriedade sempre foi uma questão central na organização das sociedades humanas. Desde os primórdios da civilização, o homem busca acumular bens, terras e riquezas materiais como forma de garantir sua sobrevivência e status social. No entanto, a Doutrina Espírita, ao analisar as verdades eternas que transcendem a materialidade, propõe uma reflexão profunda sobre o que verdadeiramente pertence ao espírito imortal.
O item 9 do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, sob a orientação do espírito Pascal, nos convida a compreender que a verdadeira propriedade do homem não está nas riquezas materiais, mas sim naquilo que ele pode levar consigo após o desenlace corporal: a inteligência, os conhecimentos e as qualidades morais. Dessa forma, tudo o que o homem julga possuir na Terra é, na verdade, apenas um usufruto temporário, uma concessão transitória que deverá ser utilizada com responsabilidade e sabedoria.
A Ilusão da Posse Material
A sociedade contemporânea ainda se baseia fortemente na aquisição de bens como um indicativo de sucesso e felicidade. Entretanto, a Doutrina Espírita esclarece que o apego excessivo às riquezas pode ser uma grande armadilha para o espírito encarnado. O Evangelho nos ensina que “o homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo”, ressaltando que as riquezas acumuladas na Terra permanecem aqui quando ocorre a passagem para a vida espiritual.
A ilusão da propriedade material pode levar a consequências danosas para o espírito, como a ambição desmedida, o egoísmo e a falta de solidariedade. Muitas almas, ao retornarem ao mundo espiritual, percebem o vazio deixado pelo desapego às virtudes e pelo excesso de preocupação com os bens materiais. Essas criaturas encontram-se espiritualmente “pobres”, pois não souberam cultivar aquilo que realmente tem valor na eternidade.
A Verdadeira Riqueza: O Patrimônio Espiritual
Segundo Pascal, “depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar”, enfatizando que a evolução moral e intelectual é o verdadeiro tesouro do espírito imortal. Essa reflexão leva-nos a ponderar sobre como estamos administrando nossa existência terrena. Estamos acumulando experiências enriquecedoras para o nosso perispírito? Estamos desenvolvendo nossa moralidade e fortalecendo nossa inteligência espiritual? Ou estamos nos perdendo nos caprichos do mundo material, negligenciando as verdadeiras aquisições do espírito?
Os bens materiais, quando utilizados com discernimento, podem ser instrumentos de progresso para o indivíduo e para a coletividade. No entanto, devem ser administrados com responsabilidade, sem que se tornem um empecilho à evolução do ser. A riqueza é um meio e não um fim, devendo ser empregada para o bem e a caridade.
A Condição do Espírito Após a Morte
Pascal nos oferece uma analogia esclarecedora ao comparar o espírito desencarnado a um viajante que chega a um albergue. Assim como na Terra, onde as condições de moradia dependem dos recursos financeiros que o indivíduo possui, no mundo espiritual o lugar de acolhimento do espírito será determinado pelas suas aquisições morais e intelectuais.
Dessa forma, não importa a classe social, o título ou a fortuna que se teve na vida material. O que verdadeiramente contará na chegada ao plano espiritual será a soma das virtudes cultivadas e dos conhecimentos adquiridos. Esse princípio revela a suprema justiça divina, pois coloca todos os indivíduos em igualdade de condições para progredirem, independentemente da posição que ocuparam na Terra.
O Uso Consciente da Propriedade Terrena
Diante desse ensinamento, a Doutrina Espírita nos estimula a utilizar a propriedade material de forma consciente e altruísta. Os bens terrenos devem ser empregados como ferramentas de aperfeiçoamento moral, não como instrumentos de vaidade e dominação.
A caridade, como expressão do amor ao próximo, é o meio mais eficaz de transformar os bens temporais em aquisições imperecíveis para o espírito. Quando compartilhamos nosso tempo, nossos recursos e nossos conhecimentos para o bem coletivo, estamos investindo em nosso progresso espiritual.
Perspectiva Sobre o Sentido da Vida
A reflexão sobre a verdadeira propriedade nos conduz a uma mudança de perspectiva sobre o sentido da vida. Se tudo o que possuímos materialmente nos será tirado ao final da existência corpórea, devemos priorizar aquilo que nos acompanhará além do túmulo: nosso aprimoramento moral e intelectual.
O Espiritismo nos ensina que a verdadeira riqueza é a evolução do espírito. O que construímos em nossa consciência e em nosso coração será a base para a vida futura. Assim, que possamos viver de forma equilibrada, utilizando os recursos materiais com sabedoria e investindo naquilo que realmente nos pertence: as virtudes e os conhecimentos que nos acompanharão por toda a eternidade.