28 de julho de 2025

O Poder de Curar pelo Simples Contato

Por O Redator Espírita
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O Poder de Curar pelo Simples Contato

Uma análise à luz da Doutrina Espírita baseada na questão 556 de O Livro dos Espíritos e no ensinamento do Espírito Miramez

Desde os tempos mais remotos, os relatos sobre pessoas capazes de curar enfermidades com o simples toque das mãos permeiam a história das civilizações. De místicos a santos, de curandeiros a médiuns, muitos foram os que, com o passar dos séculos, afirmaram ou demonstraram possuir essa faculdade singular. No entanto, em meio à fé, à esperança e, por vezes, ao charlatanismo, é imprescindível que nos voltemos ao Espiritismo com olhar lúcido, crítico e profundamente evangélico, a fim de compreender os reais fundamentos espirituais dessa capacidade humana.

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, tem por princípio examinar os fenômenos à luz da razão e da moral cristã. Nesse contexto, a pergunta de número 556 de O Livro dos Espíritos se destaca por tocar em um ponto delicado, porém profundamente relevante: “Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contato?”. A resposta dos Espíritos é clara, porém cautelosa, e oferece diretrizes preciosas para discernirmos a realidade dos fatos e os limites da intervenção espiritual.

Para enriquecer e aprofundar essa análise, utilizaremos também o comentário do Espírito Miramez, constante da obra Filosofia Espírita, através da mediunidade de João Nunes Maia, que trata do tema sob o título “Toque de Cura”. Unindo essas duas fontes, pretendemos abordar o tema com rigor doutrinário, senso crítico e amor à verdade.

A pergunta 556 de O Livro dos Espíritos: Introdução e interpretação

Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contato?

Resposta:
“A força magnética pode chegar até aí, quando secundada pela pureza dos sentimentos e por um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. Cumpre, porém, desconfiar da maneira pela qual contam as coisas pessoas muito crédulas e muito entusiastas, sempre dispostas a considerar maravilhoso o que há de mais simples e mais natural. Importa desconfiar também das narrativas interesseiras, que costumam fazer os que exploram, em seu proveito, a credulidade alheia.”

Análise da resposta

A resposta dos Espíritos codificadores revela uma síntese admirável entre ciência espiritual, moral evangélica e vigilância racional. A ideia central é que, sim, algumas pessoas podem realmente curar pelo contato, mas essa faculdade está condicionada a três fatores fundamentais:

  1. A força magnética natural do indivíduo;
  2. A pureza dos sentimentos e o desejo ardente de fazer o bem;
  3. O auxílio dos bons Espíritos.

Esse poder, portanto, não é mágico, tampouco sobrenatural, mas uma consequência do magnetismo humano aliado à espiritualidade superior. O magnetismo, nesse caso, é entendido como uma força vital que pode ser transmitida de uma pessoa a outra, influenciando o organismo físico e espiritual do enfermo.

Além disso, a resposta adverte contra dois perigos graves:

  • A credulidade entusiasta, que vê milagres em tudo, sem o necessário discernimento;
  • A exploração interesseira, praticada por indivíduos que fazem da cura uma forma de lucro ou de projeção pessoal.

Essas advertências continuam extremamente atuais, diante da profusão de “curadores espirituais”, “mestres do toque”, “médiuns milagrosos” e outros que, muitas vezes, agem à revelia da moral cristã, em busca de prestígio, riqueza ou influência.

O toque de cura segundo o Espírito Miramez

O Espírito Miramez, na obra Filosofia Espírita, oferece um comentário luminoso e preciso sobre esse tema. Sob o título “Toque de Cura”, ele aprofunda o entendimento da cura magnética, situando-a no contexto mais amplo da mediunidade curadora, da educação espiritual e da responsabilidade moral.

A existência de pessoas magnéticas

Miramez inicia reconhecendo que há, sim, pessoas naturalmente dotadas de magnetismo curativo, capazes de aliviar ou até curar determinadas enfermidades pelo contato. Todavia, ele adverte: é necessário analisar a vida dessas pessoas, não para julgá-las ou difamá-las, mas para compreender quais são suas companhias espirituais.

A Doutrina Espírita ensina que os Espíritos se afinizam com os encarnados por laços de pensamento, sentimento e conduta. Assim, um médium curador pode atrair Espíritos iluminados ou Espíritos ignorantes, dependendo da sua vibração moral.

A presença de Espíritos no processo de cura

Toda operação curativa — explica Miramez — envolve a atuação de Espíritos desencarnados. Não se trata, portanto, de um ato isolado da vontade humana, mas de um trabalho conjunto entre o médium e os Espíritos. A eficácia da cura depende da capacidade e da moralidade dos Espíritos envolvidos, bem como da conduta ética do médium.

Se um Espírito ainda está doente moralmente, mesmo após o desencarne, ele poderá participar de processos curativos de forma desequilibrada, prejudicando, ao invés de auxiliar. Daí a necessidade de rigorosa vigilância e preparo.

As condições morais para o exercício da cura pelo contato

A pergunta 556 deixa claro que a pureza dos sentimentos e o desejo sincero de fazer o bem são pré-requisitos para que o dom curador se manifeste com segurança e eficácia. Miramez reafirma essa verdade, ao dizer que os médiuns curadores devem instruir os enfermos, além de curá-los, combinando o toque com a palavra edificante.

A cura, segundo o Espiritismo, não é fim em si mesma, mas meio de elevação espiritual. Jesus, nosso maior exemplo, curava, mas também ensinava. E frequentemente dizia ao curado: “vai e não peques mais, para que não te suceda coisa pior” (Jo 5:14). Isso nos mostra que a doença tem causas profundas, muitas vezes ligadas à vida moral e ao passado espiritual.

Portanto, o médium curador que cura mas não evangeliza, que alivia dores mas não orienta consciências, está apenas atuando parcialmente, e às vezes perigosamente.

Os falsos profetas e os riscos da mediunidade desvirtuada

Miramez adverte, com clareza e firmeza, contra os médiuns curadores iludidos, que teatralizam seus gestos, recebem pagamentos ou agem para impressionar. Esses, segundo ele, são os falsos profetas mencionados no Evangelho.

Eles podem, sim, obter certos resultados, muitas vezes pela fé do doente, mas causam distúrbios maiores na intimidade espiritual, pois transmitem fluidos contaminados, ideias distorcidas ou simplesmente distraem o enfermo do seu verdadeiro caminho de regeneração.

O Espiritismo é claro: não se deve vender os dons mediúnicos. O médium deve sustentar-se com o próprio trabalho, e não com o exercício da mediunidade. Essa regra é inegociável. A mediunidade é prova ou missão, nunca profissão ou fonte de renda.

A responsabilidade do paciente

Outro ponto importante trazido por Miramez é a responsabilidade de quem recebe a cura ou busca auxílio espiritual. O paciente também precisa selecionar com critério o que escuta, o que acredita, a quem se entrega. O raciocínio, a lucidez e a vigilância são armas indispensáveis para evitar a influência de Espíritos mistificadores ou médiuns mal-intencionados.

O Espiritismo ensina que não há vítimas inocentes da obsessão ou da enganação espiritual: toda sintonia é resultado de afinidade. Por isso, o esforço de autoeducação moral e espiritual é dever tanto do curador quanto do curado.

A verdadeira cura começa na alma

Mais do que restabelecer o corpo, a verdadeira cura consiste em transformar a alma, renovar os sentimentos, reparar os erros e alinhar-se com as leis de Deus. A Doutrina Espírita valoriza o corpo, mas jamais o coloca acima do espírito.

O toque de cura, quando legítimo, é um canal de amor e caridade, que transmite não apenas fluidos benéficos, mas esperança, fé, paz e consolo. É o Evangelho em ação, mas somente quando alicerçado na renúncia, na humildade e no desinteresse.

Conclusão: A missão do médium curador

O médium curador é, portanto, um instrumento bendito da misericórdia divina, mas precisa estar consciente de sua responsabilidade. Sua missão não é promover-se, enriquecer ou criar dependentes espirituais. Sua tarefa é servir, consolar, instruir e evangelizar.

Para isso, deve cultivar:

  • A oração constante;
  • A vigilância sobre os próprios sentimentos;
  • O estudo contínuo da Doutrina Espírita e do Evangelho;
  • A humildade em reconhecer-se apenas um canal do bem que vem de Deus;
  • O desapego ao sucesso, ao reconhecimento e aos resultados imediatos.

O verdadeiro toque de cura nasce do coração que ama, da alma que serve, da mente que se educa e das mãos que se doam. Como ensinou Miramez: “O companheiro encarnado que tem o dom de curar e que já conhece a força da verdade, como sendo amor e caridade, cresce na direção do Cristo, despertando-O em seu coração”.