Missionários Outorgados
Espíritos Missionários Outorgados a Revelar as Leis de Deus

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, abre horizontes de compreensão profunda acerca da justiça divina e do processo pedagógico a que todos os espíritos estão submetidos em sua marcha evolutiva. Um dos pontos de maior relevo nessa obra é a certeza de que, em todos os tempos, Deus confiou a alguns homens a missão sublime de revelar a Sua lei.
Tais seres, Espíritos de elevada hierarquia, encarnam com a finalidade de auxiliar a humanidade a compreender os princípios eternos que regem a vida e sustentam a paz em todos os planos. Essa revelação aparece de forma inequívoca na pergunta 622 de O Livro dos Espíritos, que nos servirá de base, juntamente com o comentário do Espírito Miramez contido na obra Filosofia Espírita, através da mediunidade de João Nunes Maia.
Neste artigo, pretendemos desenvolver uma análise detalhada sobre a missão desses Espíritos superiores, entendidos como missionários divinos, ressaltando seus papéis ao longo da história, as implicações morais para os homens comuns e a centralidade de Jesus como guia e modelo.
A Questão 622 de O Livro dos Espíritos
Kardec pergunta se Deus confiou a determinados homens a missão de revelar a Sua lei. A resposta dos Espíritos Superiores é direta: “Indubitavelmente. Em todos os tempos houve homens que tiveram essa missão. São Espíritos superiores, que encarnam com o fim de fazer progredir a Humanidade.”
Esse diálogo aparentemente simples abre vastos campos de compreensão. Em primeiro lugar, comprova que a lei divina não é descoberta ao acaso, mas apresentada por mensageiros que vêm em nome do Pai. Em segundo, demonstra que o auxílio divino não é esporádico: em todos os tempos, missionários foram enviados para inspirar e conduzir. Por fim, revela a finalidade essencial da presença desses enviados: o progresso moral e espiritual da humanidade, passo a passo, em sintonia com a capacidade de assimilação dos homens.
A Interpretação de Miramez: Missionários
O Espírito Miramez, na obra Filosofia Espírita, aprofunda esse entendimento. Para ele, os missionários são Espíritos escolhidos para ajudar a humanidade a sentir e compreender as leis imutáveis que sustentam a vida. Sua presença entre nós tem a finalidade de despertar o respeito pela ordem divina e de nos disciplinar espiritualmente. Não basta conhecer tais princípios intelectualmente; é preciso senti-los e integrá-los ao coração.
Miramez recomenda que estudemos a vida daqueles que já passaram pelo planeta com essa nobre incumbência. Através de sua conduta, exemplos e ensinamentos, encontraremos os reflexos da ordem divina em movimento.
Cada época recebeu missionários em conformidade com sua maturidade moral e intelectual, e cada povo foi assistido de maneira particular.
Assim, compreendemos que não há uniformidade no estágio evolutivo dos encarnados: em um mesmo planeta convivem almas em diferentes graus de desenvolvimento, todas sob as mesmas leis, ainda que cada qual as obedeça de acordo com sua própria condição.
O autor espiritual recorda que Deus é amor, mas um amor que não se desliga da justiça. Assim como os pais humanos buscam o bem de seus filhos, ainda que dentro de limites imperfeitos, o Criador nos oferece tudo em medida perfeita.
Essa confiança em Deus nos leva a perceber que as revelações sempre chegam no tempo certo, respeitando nossa capacidade de assimilação. Por isso, Miramez alerta contra o excesso de ansiedade ou de perguntas exageradas, pois a verdade deve ser recebida gradualmente. A luz em excesso ofusca, e o conhecimento, quando mal administrado, pode confundir mais do que libertar.
Acima de todos os missionários, Miramez exalta a figura de Jesus, Pastor confiado por Deus para guiar a humanidade desde os primórdios. Nele encontramos o caminho, a verdade e a vida, e é por meio Dele que alcançamos a paz de consciência e a verdadeira libertação espiritual. Os demais missionários, antes e depois do Cristo, são colaboradores dessa tarefa, servindo como auxiliares que preparam os corações e fortalecem os passos da humanidade rumo ao bem.
Os Missionários na História da Humanidade
Quando observamos o percurso histórico da humanidade, notamos claramente a presença constante de Espíritos missionários que assumiram tarefas específicas de revelação. Moisés, com os Dez Mandamentos, estabeleceu uma base de justiça e organização social. Sócrates, na Grécia, despertou consciências para o exercício da razão e da moralidade. Buda, no Oriente, indicou caminhos de libertação interior pelo desapego e pela compaixão. Confúcio inspirou gerações com princípios éticos que moldaram culturas inteiras. Cada um, à sua maneira, revelou aspectos da lei eterna de Deus.
Na plenitude dos tempos, a Terra recebeu Jesus, o missionário por excelência, que não apenas ensinou, mas viveu integralmente a lei divina. Sua mensagem de amor incondicional e de perdão revolucionou o mundo e permanece como farol definitivo para todos os séculos. Nele, a lei deixou de ser apenas mandamento externo para se tornar experiência íntima do coração.
Depois de Jesus, outros missionários continuaram a obra, adequando-a às necessidades de cada tempo. Francisco de Assis, com sua vida de simplicidade e renúncia, testemunhou a fraternidade universal. Gandhi, pelo espírito pacifista, ensinou que a não violência é a força mais poderosa. Chico Xavier, no Brasil, viveu o Evangelho pela caridade silenciosa e pela mediunidade de luz. A cada período, a Providência Divina envia obreiros que reacendem nos homens a lembrança da lei eterna.
A própria codificação espírita é fruto desse processo. Allan Kardec, sob inspiração dos Espíritos Superiores, organizou o Espiritismo como terceira revelação, destinada a ampliar o entendimento das leis divinas e a oferecer fundamentos racionais para a fé. Sua tarefa, de magnitude extraordinária, não se apoiou em iniciativas pessoais, mas em uma missão outorgada, na qual atuou como fiel instrumento.
O Perfil dos Missionários
A vida dos missionários apresenta traços comuns que nos permitem reconhecê-los em meio à história. Eles demonstram superioridade moral e intelectual, revelam desprendimento pessoal, não vivem para si mesmos, mas para o bem coletivo. Com frequência enfrentam incompreensões, perseguições e até mesmo o martírio, pois suas mensagens confrontam interesses e estruturas vigentes.
Suas palavras, ainda que pronunciadas em contextos específicos, ultrapassam fronteiras culturais e temporais, ecoando através dos séculos. O testemunho de suas vidas confirma suas mensagens, tornando-as incontestáveis pela força do exemplo.
A Pedagogia Divina
O envio de missionários demonstra o cuidado incessante de Deus para com Seus filhos. A pedagogia divina respeita a maturidade espiritual da humanidade, oferecendo ensinamentos de forma gradual. Primeiro, a lei de justiça; depois, a lei de amor; em seguida, o Espiritismo como chave interpretativa, conciliando fé e razão. Esse movimento progressivo é como a escada de que fala Miramez: galgada degrau a degrau, para que não nos percamos no caminho.
Deus também respeita a diversidade cultural, enviando missionários a diferentes povos, adaptando a linguagem às necessidades locais. Embora os símbolos e rituais variem, a essência é sempre a mesma: revelar o amor e a justiça do Criador. Assim, o plano divino se cumpre pela colaboração contínua de obreiros encarnados e desencarnados.
O Chamado ao Espírita Contemporâneo
O Espiritismo nos convida a reconhecer esses missionários sem idolatria. São instrumentos da vontade divina, não objetos de adoração. Kardec, em sua humildade, deixou claro que a Doutrina não era fruto de um homem, mas obra coletiva dos Espíritos Superiores. Miramez, em seu comentário, reforça a necessidade de respeitar todos os trabalhadores do bem, especialmente aqueles que nos ensinam a amar por amor a Jesus. Dessa forma, a responsabilidade dos espíritas contemporâneos é dar continuidade a essa missão, não apenas estudando e divulgando os princípios, mas vivenciando-os em sua prática diária.
A lição maior é que todos podemos ser missionários em pequena escala. Cada gesto de fraternidade, cada palavra de consolo, cada esforço de paciência é uma contribuição para que a lei divina se manifeste no mundo. Se não nos cabe a tarefa grandiosa dos grandes reveladores, temos, ao menos, a missão cotidiana de viver o Evangelho em sua simplicidade.
Certeza Consoladora
A pergunta 622 de O Livro dos Espíritos e o comentário de Miramez nos conduzem a uma certeza consoladora: Deus não deixa Seus filhos à própria sorte. Em todos os tempos, missionários têm sido enviados para revelar a Sua lei e iluminar os caminhos da humanidade. Esses Espíritos superiores assumem a tarefa com sacrifício, desprendimento e amor, inspirando-nos a seguir adiante.
Jesus é o missionário supremo, guia e modelo seguro, que nos mostra em plenitude a lei de Deus. Os demais, antes e depois Dele, são colaboradores fiéis dessa obra, preparando e sustentando os corações. O Espiritismo, como terceira revelação, confirma e amplia essa missão, convidando-nos a não apenas admirar os missionários, mas a imitá-los na medida de nossas forças.
Assim, compreendemos que o verdadeiro reconhecimento desses enviados não está na veneração exterior, mas na vivência interior da lei de amor, justiça e caridade. E, passo a passo, galgando os degraus da escada evolutiva, participaremos, ainda que humildemente, da mesma missão de luz e fraternidade que sempre guiou a humanidade.