23 de agosto de 2024

Parnaso de Além-Túmulo

Por O Redator Espírita
Avatar de O Redator Espírita

Resenha: “Parnaso de Além-Túmulo” – Um Marco na Literatura Espiritual

“Parnaso de Além-Túmulo” é uma obra ímpar na literatura espírita e, possivelmente, na literatura mundial. Publicada pela primeira vez em julho de 1932 pela Federação Espírita Brasileira, essa antologia de poemas foi psicografada pelo então jovem médium Francisco Cândido Xavier, mundialmente conhecido como Chico Xavier. A obra não só marcou o início da prolífica carreira mediúnica de Chico Xavier, como também gerou uma intensa discussão no meio literário e científico.

Estrutura da Obra

Na sua primeira edição, Parnaso de Além-Túmulo trazia apenas sessenta poemas, assinados por nove poetas brasileiros, quatro portugueses e um anônimo. Ao longo dos anos, novos poemas foram adicionados até que a obra se consolidou em sua sexta edição, publicada em 1955, com um total de duzentos e cinquenta e nove poemas atribuídos a cinquenta e seis autores luso-brasileiros. Esses autores, cujas obras se destacam pela variedade estilística e pela fidelidade aos estilos literários em vida, abrangem diferentes escolas literárias, como o simbolismo, parnasianismo, realismo e romantismo.

Autenticidade e Controvérsia

Um dos aspectos mais notáveis e polêmicos de Parnaso de Além-Túmulo é a atribuição dos poemas a poetas falecidos, muitos dos quais são figuras renomadas da literatura brasileira e portuguesa, como Cruz e Sousa, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu e Júlio Dinis.

Essa particularidade fez com que a obra fosse rapidamente alvo de escrutínio por parte de literatos e intelectuais da época, incluindo membros da Academia Brasileira de Letras, críticos literários e psiquiatras. As reações foram diversas, variando de elogios à autenticidade literária dos poemas, até críticas céticas quanto à possibilidade de uma comunicação entre vivos e mortos.

O modelo da obra não era completamente novo no cenário espírita. A Federação Espírita Brasileira já havia publicado Do País da Luz, uma obra em quatro volumes psicografada pelo médium português Fernando de Lacerda. No entanto, Parnaso de Além-Túmulo se destacou pela qualidade literária e pela ampla repercussão que gerou, tornando-se um desafio tanto para a ciência quanto para a teoria da literatura.

O Impacto na Teoria da Literatura

O lançamento de Parnaso de Além-Túmulo trouxe à tona questões fundamentais sobre a criação literária e a autoria. Como uma obra atribuída a poetas falecidos, ela desafia as noções convencionais de autoria, levando os críticos a repensarem os limites da criatividade humana e a possibilidade de influência espiritual na produção literária.

A fidelidade dos poemas aos estilos e temas dos autores em vida, considerando a limitada educação formal de Chico Xavier, levanta questionamentos sobre o domínio dos diferentes estilos literários e a complexidade da inteligência linguística.

Além disso, a obra propõe uma reflexão profunda sobre a reencarnação e a comunicação com os espíritos, temas centrais da doutrina espírita. Para os adeptos do Espiritismo, Parnaso de Além-Túmulo representa uma prova concreta da continuidade da vida após a morte e da possibilidade de interação entre os planos físico e espiritual. Para a teoria literária, porém, a obra continua sendo um enigma, um desafio à compreensão da criação artística e da definição de autoria.

Conclusão

“Parnaso de Além-Túmulo” não é apenas um marco na literatura espírita, mas também um fenômeno cultural que transcende o campo religioso. Com sua combinação de alta qualidade literária e profundidade espiritual, a obra desafia as fronteiras entre vida e morte, criação e inspiração, revelando o potencial do ser humano como um canal entre os mundos físico e espiritual.

Mesmo décadas após sua publicação, Parnaso de Além-Túmulo continua a inspirar e a provocar debates, solidificando-se como um clássico da literatura espiritual e um testemunho da missão mediúnica de Chico Xavier.