Psicofonia
Mediunidade de Psicofonia segundo O Livro dos Médiuns
A mediunidade de psicofonia, também conhecida como mediunidade de incorporação ou de voz direta, é uma das formas mais fascinantes e complexas de manifestação mediúnica. Allan Kardec, em sua obra “O Livro dos Médiuns,” oferece uma análise detalhada e profunda sobre essa faculdade, abordando seus aspectos técnicos, morais e espirituais.
A Definição de Psicofonia
No capítulo XIV de “O Livro dos Médiuns,” Allan Kardec define a mediunidade de psicofonia como a faculdade pela qual os espíritos se comunicam utilizando a voz do médium. Esta forma de mediunidade permite que os espíritos falem diretamente através do médium, expressando seus pensamentos, sentimentos e mensagens de maneira verbal. A psicofonia é, portanto, um dos meios mais diretos de comunicação entre o plano espiritual e o plano material.
Kardec esclarece que a psicofonia pode ser dividida em duas categorias principais: a psicofonia consciente e a psicofonia inconsciente. Na primeira, o médium tem plena consciência do que está acontecendo e se lembra das palavras pronunciadas após a manifestação. Já na psicofonia inconsciente, o médium não tem lembrança do que foi dito, atuando apenas como um instrumento passivo para a comunicação do espírito.
Os Tipos de Médiuns de Psicofonia
Em “O Livro dos Médiuns,” Allan Kardec detalha os diferentes tipos de médiuns de psicofonia, classificando-os de acordo com o grau de consciência e a natureza das comunicações que recebem.
Médiuns Falantes ou Psicofônicos: Estes médiuns são aqueles que permitem que os espíritos falem através deles, utilizando sua voz para expressar pensamentos que não são seus. Eles podem ser conscientes, semiconscientes ou inconscientes durante a manifestação. Os médiuns conscientes estão cientes do que dizem, embora não formulem as palavras, enquanto os inconscientes não retêm qualquer lembrança do que foi dito.
Médiuns Naturais ou Facultativos: Kardec explica que alguns médiuns possuem essa faculdade de maneira natural e involuntária, ou seja, os espíritos se comunicam através deles sem que o médium precise fazer esforço consciente. Outros desenvolvem essa capacidade através de exercícios e práticas regulares, adquirindo controle sobre a manifestação.
Médiuns Intuitivos e Inspirados: Embora não sejam propriamente psicofônicos, esses médiuns captam os pensamentos dos espíritos e os expressam através de sua própria voz. Eles não atuam como autômatos, mas sim como intérpretes, traduzindo o que percebem de forma consciente.
O Mecanismo da Psicofonia
Kardec aborda o mecanismo da psicofonia explicando como os espíritos utilizam os órgãos vocais do médium para se expressar. Segundo ele, o espírito comunicante influencia diretamente o sistema nervoso do médium, especialmente as partes responsáveis pela fala, para produzir sons e palavras. Esse processo pode ser mais ou menos intenso, dependendo da natureza do espírito e da predisposição do médium.
O espírito, ao se comunicar, não utiliza as cordas vocais do médium como faria em um processo biológico comum. Em vez disso, ele age sobre o pensamento do médium, induzindo-o a articular as palavras desejadas. Isso é particularmente evidente nos médiuns intuitivos, que, apesar de conscientes, são capazes de pronunciar palavras e frases que não pertencem ao seu próprio repertório mental.
Em casos de psicofonia inconsciente, o espírito pode exercer uma influência ainda maior, praticamente controlando os movimentos vocais do médium sem que este tenha qualquer participação ativa ou consciência do que está acontecendo. Kardec esclarece que essa forma de manifestação requer um grau elevado de afinidade entre o espírito e o médium, assim como uma predisposição natural deste último para esse tipo de comunicação.
Os Riscos e Desafios da Psicofonia
Como em qualquer forma de mediunidade, a psicofonia apresenta seus riscos e desafios, que Allan Kardec aborda com clareza em “O Livro dos Médiuns.” Um dos principais desafios é o discernimento entre comunicações de espíritos elevados e de espíritos imperfeitos ou enganadores.
Os médiuns psicofônicos, especialmente os inconscientes, estão sujeitos a receber influências de espíritos inferiores que podem tentar se passar por entidades superiores, com o objetivo de disseminar falsas informações ou causar confusão.
Kardec enfatiza a importância da vigilância moral e do estudo constante para o desenvolvimento de um médium psicofônico. Ele deve cultivar virtudes como a humildade, a paciência e a caridade, além de manter uma sintonia elevada para atrair bons espíritos. A prática da prece e o alinhamento com os princípios cristãos são recomendações essenciais para proteger o médium das influências negativas.
Outro risco apontado por Kardec é o da obsessão, em que um espírito inferior pode dominar o médium, levando-o a agir contra sua própria vontade ou a pronunciar palavras e frases prejudiciais. Para evitar a obsessão, Kardec sugere que os médiuns estejam sempre sob a orientação de espíritos superiores e que se submetam à disciplina e ao controle de um grupo de estudos sério e comprometido com o bem.
A Evolução Espiritual através da Psicofonia
A mediunidade de psicofonia, além de ser uma ferramenta de comunicação, é também um poderoso meio de evolução espiritual para o médium. Segundo Kardec, ao servir como instrumento para a transmissão de mensagens espirituais, o médium tem a oportunidade de praticar a caridade, ajudando tanto os espíritos desencarnados quanto os encarnados. Essa prática, quando realizada com amor e desinteresse, contribui para o aperfeiçoamento moral do médium.
Kardec destaca que a mediunidade é um compromisso assumido pelo espírito do médium antes de sua encarnação, e que o seu bom uso pode acelerar seu progresso espiritual. No entanto, para que isso ocorra, o médium deve sempre agir com responsabilidade, humildade e discernimento, buscando ser um veículo fiel e puro para as comunicações dos espíritos elevados.
Além disso, a prática regular da psicofonia permite ao médium desenvolver uma maior sensibilidade espiritual, aprimorando sua capacidade de captar as intuições e inspirações dos bons espíritos em sua vida cotidiana. Esse desenvolvimento da percepção espiritual é um dos principais benefícios da mediunidade, contribuindo para que o médium se torne mais consciente de sua própria natureza espiritual e de seu papel no plano divino.
O Controle e a Educação Mediúnica
Allan Kardec dedica uma parte significativa de “O Livro dos Médiuns” à importância do controle e da educação mediúnica. Ele afirma que, para que a psicofonia seja verdadeiramente útil, é necessário que o médium desenvolva sua faculdade de forma equilibrada, sob a orientação de um grupo ou mentor experiente. A educação mediúnica envolve o estudo constante, a prática disciplinada e a observação rigorosa das comunicações recebidas.
Kardec ressalta que o controle mediúnico deve ser exercido tanto pelo médium quanto pelos dirigentes das reuniões. O médium deve aprender a dominar suas próprias emoções e a manter a serenidade durante as manifestações, enquanto os dirigentes têm a responsabilidade de criar um ambiente harmonioso e seguro para as comunicações espirituais.
Além disso, Kardec recomenda que os médiuns sejam submetidos a uma avaliação constante, para que possam identificar eventuais desvios ou influências negativas em suas comunicações. Essa avaliação deve ser feita com base em critérios objetivos, como a coerência, a moralidade e a utilidade das mensagens transmitidas, sempre levando em conta os princípios do Espiritismo.
A Importância do Ambiente nas Comunicações Psicofônicas
O ambiente em que ocorrem as comunicações psicofônicas é outro aspecto fundamental abordado por Allan Kardec. Ele explica que o ambiente deve ser propício para o trabalho mediúnico, sendo necessário que haja harmonia, respeito e sintonia entre os participantes. A presença de pessoas com intenções maliciosas, céticas ou desrespeitosas pode atrair espíritos inferiores e prejudicar a qualidade das comunicações.
Kardec também destaca a importância da prece e da elevação dos pensamentos antes e durante as sessões mediúnicas. A prece funciona como um canal de conexão com os espíritos superiores, criando uma atmosfera de paz e serenidade que favorece a comunicação com entidades benevolentes e sábias.
A regularidade das reuniões é outro fator relevante, pois contribui para a criação de uma egrégora espiritual forte e positiva, que protege o grupo e facilita a manifestação dos bons espíritos. Essa regularidade deve ser acompanhada de um compromisso sério e sincero por parte de todos os participantes, que devem estar cientes de sua responsabilidade perante a espiritualidade.
O Papel dos Espíritos Comunicantes
Em “O Livro dos Médiuns,” Kardec explica que os espíritos comunicantes possuem diferentes níveis de evolução e que a natureza das comunicações está diretamente relacionada ao grau evolutivo do espírito que se manifesta. Espíritos superiores transmitem mensagens de elevado teor moral e intelectual, enquanto espíritos menos evoluídos podem se manifestar com comunicações triviais ou até mesmo enganosas.
Os médiuns de psicofonia, portanto, devem estar preparados para discernir entre os diferentes tipos de espíritos e ajustar sua sintonia de acordo com o tipo de comunicação que desejam receber. Isso requer um conhecimento profundo dos princípios espíritas e uma prática constante de elevação moral e espiritual.
Kardec também menciona a importância de não se deixar levar pelo deslumbramento com fenômenos extraordinários ou comunicações sensacionais, pois esses elementos muitas vezes são utilizados por espíritos inferiores para desviar o médium de seu verdadeiro propósito. O foco deve estar sempre na utilidade e na moralidade das comunicações, buscando sempre o bem e o progresso espiritual.
Conclusão
A mediunidade de psicofonia, conforme descrita por Allan Kardec em “O Livro dos Médiuns,” é uma faculdade de grande importância e potencial, tanto para a comunicação entre os mundos material e espiritual quanto para o progresso espiritual do médium. No entanto, como toda mediunidade, ela exige um desenvolvimento cuidadoso, uma prática ética e responsável, e um compromisso constante com o estudo e a elevação moral.
Os ensinamentos de Kardec fornecem as diretrizes necessárias para que os médiuns de psicofonia possam exercer sua faculdade de maneira equilibrada e segura, contribuindo para a disseminação do conhecimento espiritual e para o auxílio aos espíritos necessitados.