22 de setembro de 2025

A Lei de Deus e a Consciência

Por O Redator Espírita
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Onde Está Escrita a Lei de Deus?

A pergunta número 621 de O Livro dos Espíritos é breve, mas guarda uma profundidade que nos conduz a longas reflexões. Ao afirmar que a lei de Deus está escrita na consciência, os Espíritos superiores nos revelam que o mais importante código de conduta não se encontra em tábuas de pedra, livros externos ou dogmas religiosos, mas no íntimo de cada ser.

A lei divina é uma presença viva dentro de nós, que nos orienta mesmo quando tentamos abafá-la ou esquecê-la. A pergunta adicional e sua resposta completam essa visão ao mostrar que, embora o homem traga consigo a lei, ele muitas vezes a esquece ou a despreza, sendo necessária a lembrança providenciada por Deus através de Seus mensageiros.

O comentário do espírito Miramez, através da mediunidade de João Nunes Maia, na obra Filosofia Espírita, amplia ainda mais esse entendimento, ao explicar que a consciência é o espaço onde o Pai inscreveu, com amor, Sua vontade, e que cabe a cada um despertar para essa escrita.

A consciência como sede da lei divina

Quando dizemos que a lei está escrita na consciência, não nos referimos apenas a uma ideia abstrata ou intelectual. A consciência é o núcleo íntimo do Espírito, onde ressoa a voz de Deus. Ali se encontra o discernimento sobre o bem e o mal, a memória de experiências pretéritas, a noção de responsabilidade e o chamado constante para o amor. Miramez fala de uma “escrita de luz” no centro do ser, e essa imagem nos ajuda a compreender que não se trata de uma inscrição material, mas de uma presença espiritual viva, que acompanha o Espírito em todas as suas existências.

Essa consciência, entretanto, não se manifesta da mesma forma em todos os momentos. Em alguns, ela é clara e vigorosa, inspirando-nos a praticar o bem e a rejeitar o mal. Em outros, fica obscurecida pelas paixões, pela ignorância ou pelas influências externas. A encarnação, com suas limitações, tende a enfraquecer a percepção imediata dessa lei. O corpo, as necessidades, os impulsos e as circunstâncias sociais podem reduzir a clareza dessa voz interior. É por isso que, apesar de trazermos a lei em nós, precisamos ser constantemente lembrados dela.

O esquecimento da lei e a necessidade da revelação

A resposta adicional oferecida pelos Espíritos a Kardec é muito clara: o homem, em seu estado de imperfeição, esqueceu e desprezou a lei. Esse esquecimento se dá por várias razões. Em primeiro lugar, porque as paixões humanas tendem a abafar a voz da consciência. Quando o orgulho, o egoísmo ou a busca desenfreada por prazeres se sobrepõem, a sensibilidade moral diminui.

Além disso, a vida social frequentemente valoriza condutas que se afastam do ideal cristão, favorecendo o materialismo, a competição e a violência. Também as feridas emocionais, os traumas e a ignorância sobre a própria natureza espiritual contribuem para que o Espírito se afaste daquilo que traz gravado no íntimo.

Contudo, Deus, em sua bondade infinita, não deixa Seus filhos abandonados. Ele envia mensageiros, profetas, mestres e, sobretudo, o Cristo, para lembrar aos homens da lei que já está em seus corações. A revelação, portanto, não é uma novidade externa, mas uma recordação. O Evangelho de Jesus é o mais sublime desses lembretes: nele encontramos não apenas palavras, mas exemplos vivos de como agir segundo a consciência iluminada pela lei do amor.

A pedagogia divina da lembrança

Miramez nos recorda que o aprendizado é gradual, feito passo a passo. Deus não exige de Seus filhos saltos impossíveis, mas promove a educação moral de maneira progressiva, respeitando o ritmo de cada um. Assim, a revelação se renova de tempos em tempos, com novos missionários e mensagens que despertam a humanidade. Esse processo educativo divino tem como objetivo reacender a consciência adormecida, despertando os talentos espirituais que todos possuímos.

Jesus ocupa papel central nesse trabalho. Ele é o revelador maior das leis divinas, o exemplo perfeito da consciência plenamente alinhada ao Pai. Quando nos convidou a pedir, buscar e bater, assegurando que receberíamos resposta, Ele mostrou que a lembrança da lei não se dá de forma passiva, mas exige esforço, perseverança e desejo sincero de crescer. A pedagogia divina é, portanto, uma combinação do auxílio que vem de cima com a boa vontade que parte de baixo.

Responsabilidade e consolo na consciência

Ter a lei de Deus inscrita na consciência é, ao mesmo tempo, um privilégio e uma responsabilidade. É privilégio porque significa que cada ser humano traz consigo um guia íntimo e permanente, que o conduz na direção da felicidade verdadeira.

Mas é também responsabilidade, porque não podemos alegar total ignorância: ainda que obscurecida, a consciência sempre sussurra e chama.

Quando a voz interior é ignorada, surgem o remorso e a dor moral, que são instrumentos de correção e estímulo à mudança. Quando é ouvida e seguida, surge o consolo, a paz íntima e a alegria de se estar no caminho certo.

Miramez afirma que, com a maturidade espiritual, a lei se torna tão natural ao coração quanto o ar que respiramos. Isso significa que, quanto mais a praticamos, mais ela deixa de ser peso e se torna fonte de prazer e liberdade. O esforço diário de alinhar pensamento, sentimento e ação ao bem faz com que a consciência desperte e se fortaleça, conduzindo-nos a níveis mais altos de harmonia.

Caminhos para o despertar da consciência

Como reavivar a lei divina em nós? A tradição espírita nos aponta alguns recursos eficazes. A oração sincera, unida à vigilância dos pensamentos, mantém o Espírito atento à sua própria vida íntima e sensível à inspiração dos benfeitores. O estudo constante do Evangelho e das obras da Codificação nos esclarece, ampliando nossa visão e afinando nosso discernimento. O trabalho no bem, expresso na caridade e no serviço ao próximo, é o exercício prático que fortalece os valores já percebidos pela consciência. O autoexame frequente, com a humildade de reconhecer falhas e propor emenda, ajuda a alinhar nossa conduta com a lei gravada no íntimo.

A vida em comunidade, especialmente nos centros espíritas, também favorece o despertar da consciência. O convívio fraterno, o diálogo e o apoio mútuo criam um ambiente onde a lei do amor pode ser experimentada e aprendida de forma concreta. Cada pequena vitória moral deve ser valorizada, pois é sinal de progresso e estímulo para continuar avançando. E, acima de tudo, o perdão — tanto o que concedemos quanto o que pedimos — liberta a consciência de pesos e a coloca em sintonia com a misericórdia divina.

A lei de Deus como princípio do amor

No fundo, toda essa reflexão converge para uma síntese: a lei de Deus é o amor. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo resume todos os preceitos morais. A consciência, ao ser iluminada, percebe que esse é o núcleo da lei, e que todas as regras de conduta nada mais são do que desdobramentos dessa verdade central.

O amor é o caminho que conduz à felicidade, à harmonia e à verdadeira liberdade. É o cumprimento natural da lei gravada por Deus no íntimo de cada criatura.

Dentro de nós

A pergunta 621 de O Livro dos Espíritos nos coloca diante de uma realidade sublime: a lei de Deus não está fora, mas dentro de nós. Está na consciência, inscrita pelo próprio Criador como roteiro seguro para nossa evolução. O esquecimento e o desprezo dessa lei não anulam sua existência, apenas retardam nossa felicidade.

Deus, em sua bondade, providencia constantemente meios de nos lembrar do que já sabemos no íntimo, enviando mensageiros e, sobretudo, o Cristo, que encarna em sua vida e em seus ensinos o conteúdo dessa lei.

O desafio que se apresenta é reavivar essa lembrança, despertar a consciência e viver de acordo com a lei do amor. Isso se faz pela oração, pelo estudo, pela caridade, pelo autoexame e, sobretudo, pela busca sincera de Jesus.

Como bem sintetiza Miramez, se queremos saber mais, procuremos o Mestre, tomando a nossa cruz e seguindo Seus passos. Somente assim o que está escrito em nossa consciência se tornará vida prática, fonte de paz e instrumento de transformação para nós e para o mundo.