1 de agosto de 2025

A Paternidade Como Missão

Por O Redator Espírita
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A Paternidade Como Missão: Um Compromisso Espiritual Com A Educação E A Evolução

Na longa jornada evolutiva do Espírito imortal, a reencarnação é o instrumento divino que possibilita o progresso moral e intelectual dos seres. Cada existência na Terra é um capítulo dessa trajetória, e cada papel que o Espírito desempenha no palco da vida traz consigo obrigações específicas perante a Lei de Deus. Dentre esses papéis, poucos são tão sagrados, complexos e determinantes quanto o da paternidade.

A pergunta 582 de O Livro dos Espíritos, obra inaugural da Codificação Espírita compilada por Allan Kardec, trata diretamente do caráter missionário da paternidade, considerando-a, sem ambiguidade, uma verdadeira missão. Com base nessa resposta e nos comentários profundamente inspirados do Espírito Miramez, presente na obra Filosofia Espírita, propomo-nos neste artigo a refletir com profundidade sobre o tema: “A paternidade como missão”.

Este texto se dirige especialmente aos que trilham o caminho espírita, buscando compreender o papel dos pais como tutores espirituais, os compromissos assumidos antes da reencarnação, a influência que exercem sobre os Espíritos sob sua guarda e as consequências morais de sua negligência ou dedicação. Como disse Kardec em diversas passagens, educar é evangelizar, e evangelizar é o ato mais nobre a que um pai ou uma mãe pode se devotar.

A Paternidade: Missão e Compromisso Espiritual

Quando os Espíritos Superiores respondem a Kardec que a paternidade é uma verdadeira missão, e o fazem com ênfase na expressão “sem contestação possível”, deixam claro que esse encargo ultrapassa os laços materiais e os deveres civis. A missão, no sentido espírita, é um compromisso assumido pelo Espírito antes de reencarnar, com vistas a auxiliar outros Espíritos em sua evolução.

No caso da paternidade (ou maternidade, pois o raciocínio aplica-se a ambos), Deus confia aos pais a tutela de Espíritos que necessitam de orientação, e lhes concede meios para que possam desempenhar essa tarefa: o amor natural, a convivência estreita, a autoridade legítima e o tempo.

O Espírito, ao reencarnar, passa por uma fase de extrema fragilidade: é moldável, impressionável, sedento de referências. A Providência divina assim o permite para facilitar a ação educativa dos pais. Não por acaso, a resposta da pergunta 582 destaca que o filho vem com “uma organização débil e delicada”, condição que o torna propício a todas as impressões.

Isso evidencia o papel formador dos pais, não apenas no que diz respeito ao sustento e segurança física, mas, sobretudo, no que tange ao caráter moral do filho. Os pais não estão apenas cuidando de uma criança; estão cooperando com Deus na edificação de um Espírito eterno.

O Comentário de Miramez: A Missão, a Justiça e a Lei do Amor

Na obra Filosofia Espírita, o Espírito Miramez, por meio da psicografia do médium João Nunes Maia, aprofunda esse entendimento com clareza e beleza singulares. Ele reitera que a paternidade é uma missão dentro da sociedade, com reflexos profundos no destino dos envolvidos. Para ele, “os pais são os instrumentos por onde o Espírito toma um corpo físico, revestindo-se de oportunidades para elevar-se”.

Essa afirmativa aponta para a paternidade como instrumento da Lei da Reencarnação, e mais do que isso: como expressão da Lei de Justiça e da Lei de Amor. Os pais que hoje recebem filhos difíceis, revoltados, doentes ou indiferentes, quase sempre estão resgatando débitos pretéritos ou reassumindo compromissos interrompidos em encarnações anteriores.

É importante compreender que a Justiça Divina não atua com castigo, mas com reeducação e oportunidade. O filho problemático de hoje pode ter sido, em tempos passados, um inimigo, um subordinado maltratado, um irmão abandonado. Em todas essas situações, a paternidade se apresenta como uma oportunidade redentora, restabelecendo os elos pela via do afeto e da convivência.

A Paternidade Desleixada e Suas Consequências

Infelizmente, como aponta o próprio Kardec e reitera Miramez, muitos pais negligenciam essa missão. Preocupam-se mais com o jardim, com o carro, com o progresso material e os títulos sociais do que com a formação moral dos filhos. Esses pais, diz o Espírito Miramez, “sofrem depois ao verem seus filhos em decadência, por vezes por falta de atendimento na sua educação”.

É fundamental destacar que a responsabilidade não termina com a maioridade civil ou com a emancipação material do filho. Ela se prolonga no plano espiritual, tanto quanto durem os efeitos da negligência. Espíritos que falham gravemente em sua missão de pais colhem aflições futuras e, se o desequilíbrio do filho tiver como causa sua omissão, partilham de suas dores.

Essa perspectiva nos convida a uma revisão sincera de valores: o que temos priorizado em nossos lares? Quantas horas dedicamos ao diálogo com os filhos, à oração em família, à leitura edificante, ao exemplo cotidiano do bem? E, por outro lado, quanto tempo entregamos à televisão, às redes sociais, ao consumismo, às distrações vazias?

O Evangelho de Jesus como Base Educativa

Tanto Kardec quanto Miramez convergem para a mesma solução: o Evangelho de Jesus é o instrumento primeiro da educação espiritual no lar. Não se trata de uma religiosidade vazia ou de preceitos impostos por obrigação, mas de uma vivência sincera dos ensinamentos cristãos, especialmente o amor, a paciência, o perdão, a disciplina e o trabalho.

Quando o Evangelho penetra no lar, a casa torna-se uma escola, e os pais, educadores morais. Não se espera deles perfeição, mas coerência. O filho não necessita de pais impecáveis, mas de pais sinceros, que se esforcem para viver aquilo que pregam.

Miramez é enfático: “O homem tem mais necessidade de Jesus do que de alimento para o corpo.” E, de fato, a carência de referência espiritual no lar é uma das principais causas das desordens familiares atuais. Lares sem Deus tornam-se presas fáceis das influências externas, das companhias nocivas, das ideias materialistas e das ilusões do mundo.

O remédio é simples, mas exige constância: Evangelho no Lar, oração, diálogo, disciplina com amor, limites com respeito. Não se educa apenas com palavras, mas com ações e exemplos.

A Lei de Atração e a Assistência dos Bons Espíritos

A resposta de Kardec e o comentário de Miramez também trazem à tona um aspecto espiritual da paternidade: a presença ou ausência da assistência dos bons Espíritos. Dizem os Espíritos Superiores, e Miramez reforça, que os Espíritos elevados apoiam os pais que agem com humildade e desinteresse, mas afastam-se dos que buscam nos filhos apenas projeção social, orgulho ou apego egoísta.

Isso se deve à Lei de Afinidade e Sintonia: os bons Espíritos aproximam-se daqueles que vibram na faixa do amor verdadeiro, da responsabilidade moral, da fé ativa. Pais que educam seus filhos segundo os preceitos do bem contam com a proteção e a inspiração do Alto. Já os que se perdem na indiferença ou na negligência, atraem entidades inferiores que exploram suas fraquezas.

Daí a importância de manter alta a vibração do lar: evitar brigas, agressões verbais, palavrões, influências televisivas perniciosas, música desarmonizante, ambientes desorganizados. Tudo isso favorece a presença de Espíritos inferiores e prejudica a harmonia necessária à educação espiritual.

Desapego e Autonomia dos Filhos

Outro ponto abordado com sabedoria por Miramez diz respeito ao desapego necessário dos pais em relação aos filhos. Ele afirma que os pais devem “livrar-se do apego demasiado, para que os filhos não venham a depender sempre dos seus esforços”.

Esse ensinamento é fundamental. Educar um filho não é prendê-lo a si, mas prepará-lo para o mundo. A paternidade é, portanto, temporária no plano físico, mas eterna no plano espiritual em termos de fraternidade e amor. Os filhos não pertencem aos pais; são Espíritos que vêm sob sua guarda temporária para cumprir planos reencarnatórios.

Pais que impedem os filhos de crescer, que sufocam sua autonomia, que os mantêm dependentes afetiva ou materialmente, violam a Lei de Liberdade e atrapalham sua evolução. A verdadeira missão do pai é ensinar o filho a andar com as próprias pernas, espiritualmente falando.

Conclusão: A Paternidade como Ato de Amor e de Serviço

Diante do que expusemos, fica evidente que a paternidade é, sim, uma missão espiritual incontestável, e que seu sucesso ou fracasso traz consequências para além desta existência. Educar um filho é um ato de amor, mas é também um serviço, um trabalho, uma renúncia, um altar de sacrifícios silenciosos que, quando realizados com fé e perseverança, glorificam a alma e conduzem à luz.

A esperança, como bem colocou Miramez, está no tempo e nas reencarnações. Ainda que hoje muitos pais falhem, o ciclo da vida permite recomeços, reconciliações e novos aprendizados. A paternidade é missão que se repete até ser compreendida e bem realizada.

Que os pais e mães espíritas saibam reconhecer o valor do papel que Deus lhes confiou, que se inspirem no Evangelho de Jesus, que mantenham acesa a luz da vigilância e da oração, e que façam do seu lar um templo de amor, de educação e de elevação moral.

Como ensinou Jesus: “Deixai vir a mim os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus.” (Mateus 19:14)