8 de setembro de 2025

A Vingança

Por O Redator Espírita
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A Vingança: Ensinamentos do Evangelho

O Evangelho Segundo o Espiritismo é uma das obras fundamentais da Doutrina Espírita, trazendo não apenas a explicação dos ensinos morais de Jesus à luz do Consolador Prometido, mas também orientações de Espíritos superiores que colaboram com a humanidade em seu processo de evolução.

No Capítulo XII, intitulado “Amai os vossos inimigos”, encontramos lições sublimes acerca da necessidade do perdão, da indulgência e da superação do ódio como caminhos indispensáveis à verdadeira vivência cristã. Dentro desse capítulo, no item 9, temos uma instrução preciosa ditada pelo Espírito Júlio Olivier, em Paris, no ano de 1862, sob o título “A Vingança”.

Nesse texto, o Espírito amigo denuncia a vingança como um dos últimos resquícios dos costumes bárbaros, incompatível com o Evangelho de Jesus e com a conduta que se espera de um verdadeiro cristão. O ensinamento é claro: aquele que se vinga ou cultiva esse desejo ainda se encontra preso às sombras da ignorância, afastando-se do caminho do amor e da caridade.

Nosso objetivo neste artigo é aprofundar a compreensão dessa mensagem, analisando seus pontos centrais, refletindo sobre o impacto da vingança na vida do espírito imortal e apontando, à luz da Doutrina Espírita, os caminhos para a superação desse sentimento nocivo.

A Vingança como Resquício dos Costumes Bárbaros

Júlio Olivier inicia sua instrução afirmando que a vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros. Para entendermos essa colocação, é necessário recordar que a humanidade, em sua trajetória evolutiva, percorreu estágios de selvageria e brutalidade, nos quais a lei da força predominava sobre a lei da justiça.

Na Antiguidade, era comum o princípio do olho por olho, dente por dente, estabelecido no Código de Hamurabi e presente em diversas tradições primitivas. A vingança era considerada não apenas aceitável, mas um dever de honra e até mesmo uma forma de garantir a sobrevivência dos clãs.

Com o advento do Cristianismo, Jesus apresentou uma nova perspectiva: “Amai os vossos inimigos” e “Perdoai para que Deus vos perdoe”. Essas máximas revolucionaram a moral humana, propondo a superação da violência e a substituição da vingança pelo perdão.

Contudo, apesar de dois mil anos de Cristianismo, Júlio Olivier, em pleno século XIX, ainda encontrava a vingança como hábito persistente. Ele a compara ao duelo, prática comum na época, em que ofensas à honra eram lavadas com sangue. Tais comportamentos, afirma o Espírito, são sinais de atraso moral e não podem coexistir com o verdadeiro Espiritismo.

Assim, compreendemos que a vingança é um resquício da animalidade que precisa ser vencido para que o ser humano se torne verdadeiramente espiritualizado.

A Incompatibilidade da Vingança com o Cristianismo

O ensinamento de Júlio Olivier é taxativo: “Vingar-se é tão contrário à prescrição do Cristo: ‘Perdoai aos vossos inimigos’, que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita como também não é cristão.”

Essa frase encerra uma verdade profunda: o perdão não é uma opção para quem deseja viver o Evangelho, mas uma exigência inadiável. O cristão que guarda rancor ou busca retaliação contradiz a essência da mensagem do Cristo.

O Espiritismo, por sua vez, não se limita a recomendar o perdão como preceito moral; ele explica suas razões profundas. O espírito imortal, sujeito à lei de causa e efeito, colhe sempre os frutos de suas ações. A vingança, sendo a perpetuação do mal, gera novos débitos e mantém o espírito preso a ciclos de sofrimento. Já o perdão liberta, rompe a cadeia da hostilidade e permite que a alma se eleve.

Portanto, para o espírita sincero, não há justificativa para alimentar a vingança. Ele sabe que a verdadeira justiça pertence a Deus e que somente a misericórdia conduz à paz.

A Vingança e Suas Companheiras: Falsidade e Baixeza

O Espírito instrutor ressalta que a vingança quase sempre caminha ao lado da falsidade e da baixeza moral.

Isso porque raramente o vingativo age às claras. Quando não pode confrontar o inimigo diretamente, recorre à hipocrisia e às dissimulações. Esconde seus sentimentos, trama em segredo e busca atingir o outro pelas sombras.

Júlio Olivier descreve com clareza os mecanismos do vingativo:

  • Espreita o inimigo, esperando o momento oportuno para feri-lo.
  • Prepara armadilhas sorrateiras.
  • Recorre ao veneno, à traição, à covardia.
  • Quando não chega a esses extremos, utiliza-se da calúnia, espalhando insinuações maldosas para destruir a honra alheia.

Esse retrato é extremamente atual. Quantos, em nossos dias, não recorrem a formas de vingança silenciosa, atacando pela difamação, pelas redes sociais, pela intriga e pelo afastamento das amizades? Quantas reputações não são destruídas por vinganças mascaradas sob o véu da dissimulação?

A falsidade e a baixeza, portanto, não são apenas companheiras da vingança, mas também suas consequências diretas, pois aquele que se vinga rebaixa sua condição espiritual e afasta-se da nobreza que o Evangelho convida a cultivar.

A Destruição da Vida Social do Ofendido

Um dos pontos mais fortes do texto de Júlio Olivier é a descrição do impacto da vingança indireta, aquela praticada por meio da calúnia e da intriga.

O perseguidor espalha insinuações sutis, que, multiplicadas de boca em boca, transformam-se em suspeitas, acusações e rejeições. O perseguido, ao retornar aos ambientes que frequentava, depara-se com olhares frios e mãos que já não se estendem para cumprimentá-lo. Amigos e parentes se afastam, e ele se vê isolado.

Essa pintura, feita no século XIX, é assustadoramente atual. Em nossa sociedade, quantas pessoas não enfrentam a destruição de sua vida social, profissional e afetiva em razão de fofocas, calúnias e difamações?

O vingativo, ao agir dessa forma, mostra-se “cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o inimigo em plena face”, pois utiliza-se da covardia e da perfídia, ferindo o outro onde mais dói: na dignidade e nos afetos.

Essa reflexão nos alerta para a gravidade da vingança sutil, muitas vezes invisível, mas capaz de aniquilar vidas inteiras.

A Conduta Incompatível com o Espírita

O Espírito é firme em sua advertência: “Todo espírita que ainda hoje pretendesse ter o direito de vingar-se seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade não há salvação!”

A máxima kardequiana, “Fora da caridade não há salvação”, resume a essência da Doutrina Espírita. E a vingança, sendo a negação da caridade, exclui o indivíduo da verdadeira vivência espírita.

Não basta, portanto, frequentar centros espíritas, estudar as obras da codificação ou participar de reuniões mediúnicas. Se o coração ainda se deixa arrastar pelo desejo de vingança, o espírito ainda não compreendeu o Espiritismo em sua essência.

O verdadeiro espírita é aquele que, mesmo ofendido, busca compreender, perdoar e seguir em frente, sem permitir que o ódio contamine sua alma.

O Antídoto: O Perdão e a Caridade

Se a vingança é um veneno para a alma, o antídoto é o perdão, fortalecido pela prática constante da caridade.

Perdoar não significa aprovar a injustiça ou compactuar com o mal. Significa libertar-se do jugo da ofensa e entregar a justiça a Deus, cuja sabedoria é infinita.

A caridade, por sua vez, amplia o coração, desperta a compaixão e fortalece os laços de fraternidade. Quem pratica a caridade desenvolve naturalmente a indulgência, a compreensão e a paciência, vacinando-se contra o desejo de vingar-se.

O espírita deve compreender que o perdão é exercício diário, que começa nos pequenos gestos: nas contrariedades familiares, nos conflitos de trabalho, nas diferenças de opinião. Cada vez que renunciamos à vingança, mesmo em coisas mínimas, avançamos na direção da verdadeira paz.

A Vingança e a Lei de Causa e Efeito

Embora o texto de Júlio Olivier não trate diretamente da lei de causa e efeito, é impossível não relacionar o tema.

Aquele que se vinga cria para si novos débitos, pois multiplica o mal em vez de interrompê-lo. Muitas vezes, os inimigos de hoje são os adversários de ontem, reencarnados novamente para a reconciliação.

Se escolhemos a vingança, prolongamos indefinidamente a cadeia de ódios. Se escolhemos o perdão, quebramos o ciclo e nos libertamos.

Assim, a justiça divina não exige que nos vinguemos, mas que aprendamos a amar e perdoar. É por meio dessa postura que transformamos inimigos em irmãos e avançamos no caminho da evolução.

A Atualidade do Ensinamento

Embora escrito em 1862, o texto de Júlio Olivier permanece extremamente atual.

Vivemos tempos de intolerância, de polarizações políticas e sociais, em que a vingança assume formas novas, muitas vezes digitais, mas igualmente destrutivas. As redes sociais tornaram-se palco de perseguições, difamações e ataques que arruínam reputações e destroem relações.

O convite do Evangelho é mais urgente do que nunca: é preciso substituir a vingança pelo perdão, a violência pela compreensão, o ódio pela caridade.

Conclusão: Costume incompatível

A vingança, ensina-nos o Espírito Júlio Olivier, é um costume bárbaro, incompatível com o Cristianismo e com a Doutrina Espírita. Suas companheiras são a falsidade e a baixeza, e seus efeitos são a destruição da vida social e moral do ofendido.

O espírita verdadeiro não pode alimentar esse sentimento, sob pena de contradizer a divisa maior da Doutrina: “Fora da caridade não há salvação.”

O caminho proposto por Jesus e reafirmado pelo Espiritismo é o do perdão, da indulgência e da caridade. Somente assim poderemos vencer a animalidade ainda presente em nós e construir uma sociedade mais justa, fraterna e pacífica.