Comunicação entre Reinos
Comunicação entre Reinos: A Energia que Nos Une

O Espiritismo nos convida a ampliar o olhar sobre a vida. A Doutrina codificada por Allan Kardec não se limita à compreensão da existência humana, mas abarca toda a Criação, desde o reino mineral até os Espíritos puros. É nesse contexto que a mensagem “A Energia entre Nós”, ditada pelo Espírito do Dr. Abraham Arden Brill e psicografada pelo médium Fábio Bento, nos oferece um ponto de reflexão profundo: a comunicação sutil que ocorre entre os diferentes reinos da natureza.
Essa ideia, à primeira vista poética ou mística, encontra respaldo nas observações de Kardec sobre a universalidade das leis divinas e na noção de que tudo está interligado no grande organismo cósmico. Como trouxe o Codificador na resposta da questão 589, “tudo é transição na natureza” (O Livro dos Espíritos).
Neste artigo, vamos analisar trechos da mensagem de Dr. Brill e correlacioná-los com a Codificação, extraindo implicações para nossa visão espiritual do mundo e para o nosso relacionamento com a vida que nos cerca.
“Nada está desconectado” — A unidade fundamental da Criação
Logo no início, Dr. Brill afirma:
“Os seres estão mesmo ligados por energias. Há energias entre congêneres, há energias distintas entre seres vindos do Pai, mas de reinos diferentes. […] Há ligações de todo tipo, nada está desconectado.”
Essa frase dialoga diretamente com um dos princípios centrais do Espiritismo: a solidariedade universal das criaturas. Os espíritos respondem em O Livro dos Espíritos (Questão 540), que “tudo se liga na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo”. Tal conexão não é apenas material, mas também fluídica e espiritual.
Quando Dr. Brill fala em “energias entre congêneres” e “energias entre reinos diferentes”, podemos associar isso à função dos fluidos universais, quando em O Livro dos Espíritos (Questão 27), os espíritos nos dizem que o que chamamos de fluido elétrico ou fluido magnético, por exemplo, são modificações do fluido universal. Podemos concluir que servem de veículo para as forças e as comunicações sutis entre todas as formas de vida. E que, desdobrando-se em novas forças, abrem premissas para descobertas de forças ainda desconhecidas por nós.
Na codificação, encontramos ainda a explicação de que existe uma mesma força que une os elementos da matéria, nos corpos orgânicos e inorgânicos (LE, q. 60 e 61). Podemos entender, a partir das questões 27, 60 e 61 do Livro do Espíritos, que de onde derivam todas as modificações da matéria e do princípio vital é esse fluido que permite a existência de “pontes” energéticas entre seres tão distintos quanto um homem e uma planta.
Falar com plantas — O canal de comunicação entre reinos
Dr. Brill nos provoca com uma pergunta simples, mas instigante:
“Quantos de vós falam com plantas? Quantos de vós falam com animais?”
No senso comum, falar com uma planta é apenas um gesto afetivo, sem efeito real. No entanto, estudos científicos já indicam que plantas reagem a estímulos externos e, de alguma forma, “percebem” alterações no ambiente. No plano espiritual, o tema é mais amplo: não se trata de diálogo como entre humanos, mas de interação fluídica.
Kardec, na questão 589 de O Livro dos Espíritos, deixa claro que as plantas não pensam nem têm vontade, mas possuem “um instinto cego e natural”. Isso não impede, porém, que haja trocas sutis de energia entre os reinos. A comunicação a que Dr. Brill se refere não é verbal nem racional, mas vibratória — feita através do que ele chama de “energia certa que nos une”.
Esse conceito lembra o que Kardec trata em alguns pontos da codificação, ao explicar que os Espíritos se comunicam por afinidade fluídica. Por analogia, poderíamos entender que cada reino da natureza possui um “dialeto energético” próprio, sendo necessário “sintonizar” para estabelecer contato.
“Ouvidos de ouvir” — Sintonizando a percepção espiritual
Um dos trechos mais ricos da mensagem é:
“Uma planta não vai nos responder como nos responde outro homem. Mas nos responde. […] É preciso ter ‘ouvidos de ouvir’. E o que seria isso? A utilização da energia certa que nos une. A energia entre reinos distintos.”
A expressão “ouvidos de ouvir” é retirada do próprio Evangelho (Mateus 13:9) e ganha aqui uma interpretação espiritualista: para perceber respostas que não vêm por palavras, é necessário desenvolver sensibilidade psíquica.
Kardec, em O Livro dos Médiuns (cap. XIV, item 159), menciona que médium é toda pessoa que sente, em certo grau, a influência dos espíritos. E que raras são as pessoas que não possuem tal faculdade. Sendo todos “mais ou menos” médiuns, podemos concluir que a comunicação extrafísica pode dar-se a partir de qualquer encarnado. O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao relacionamento com outros reinos: não é que as plantas “falam”, mas podem manifestar reações captáveis por quem aprendeu a perceber o mundo além da matéria densa.
O amor como catalisador da comunicação
Dr. Brill afirma:
“A energia entre nós é um canal de comunicação. […] E o amor facilita a comunicação e a clareza nas mensagens.”
No Espiritismo, o amor é visto não apenas como sentimento, mas como força ativa. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XI, instruções dos Espíritos, A Lei de Amor, item 9), Kardec reproduz a frase de Fénelon: “O amor é de essência divina”. Essa essência tem, inclusive, poder de afinização fluídica, pois a simpatia e a afinidade moral aproximam seres — encarnados ou desencarnados — pela harmonização de suas vibrações.
Quando o Dr. Brill diz que o amor facilita a comunicação entre reinos, está aplicando esse mesmo princípio. Não é à toa que pessoas que tratam plantas e animais com carinho relatam que estes “respondem” de forma mais intensa. No plano espiritual, essa sintonia é a ponte.
A consciência nos diferentes reinos
Um ponto que pode gerar polêmica na fala de Dr. Brill é:
“A consciência de uma planta ou animal existe, mas é diferente da dos homens, que, de forma ingênua, acreditam que são os únicos seres conscientes do cosmos.”
A Codificação admite graus de desenvolvimento do princípio inteligente. Em O Livro dos Espíritos, questões 585 a 592, fica claro que os vegetais possuem vida orgânica e sensibilidade física (instinto puramente mecânico), mas não consciência como a entendemos nos humanos.
O que Dr. Brill chama de “consciência” nas plantas parece estar mais próximo do que Kardec define como instinto, que é uma forma rudimentar de inteligência, não raciocinada, mas que dirige o ser em suas necessidades básicas.
Além disso, é possível citar pequeno trecho da nota de Kardec na pergunta 613 de O Livro dos Espíritos:
“O ponto inicial do Espírito é uma dessas questões que se prendem à origem das coisas e de que Deus guarda o segredo. Dado não é ao homem conhecê-las de modo absoluto, nada mais lhe sendo possível a tal respeito do que fazer suposições, criar sistemas mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos longe estão de tudo saberem e, acerca do que não sabem, também podem ter opiniões pessoais mais ou menos sensatas”.
Barreiras de comunicação e a “energia errada”
Outro trecho instigante:
“Uma planta pode nos ouvir […] Mas quando tenta retornar, não consegue entregar a mensagem, porque não há receptor compatível no homem que utiliza a energia errada para tanto.”
Aqui, o Espírito usa uma metáfora semelhante à das rádios: se não estivermos na frequência correta, a comunicação não se completa. Isso se conecta ao que Kardec discorre sobre a identidade dos espíritos nas comunicações espirituais (O Livro dos Médiuns, cap. XXIV). Neste ponto, o codificador aponta para as condições morais do espírito comunicante, fato que ajuda a distinguir os bons dos maus, os legítimos dos falsários. Logicamente, a vibração moral que deles emanam é a frequência certa a ser sintonizada.
Se até entre Espíritos a sintonia é necessária, o mesmo vale para qualquer tentativa de intercâmbio entre reinos. Não se trata de “ouvir” no sentido físico, mas de captar impressões e sinais sutis.
Empatia e amor como chaves universais
A conclusão de Dr. Brill é clara:
“A chave para sintonizar a energia correta entre nós e outros reinos, passa pela empatia e pelo amor.”
Essa síntese está em perfeita harmonia com a Doutrina Espírita. Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XV, lembra que “fora da caridade não há salvação”, e podemos ampliar esse entendimento: a caridade não é apenas entre humanos, mas uma postura de respeito e cuidado com todas as formas de vida.
Quando a empatia se torna natural, a sintonia energética se estabelece com mais facilidade, permitindo um intercâmbio sutil, mesmo que não verbal, entre os diferentes reinos da Criação.
Conclusão
A mensagem “A Energia entre Nós” não contradiz a Codificação Espírita. Ao contrário, amplia e ilustra conceitos já apresentados por Kardec, como a interligação universal, a afinidade fluídica e a gradação dos princípios inteligentes.
O Espiritismo nos convida a compreender que, embora a consciência humana seja mais desenvolvida, todos os reinos participam do mesmo plano divino e estão ligados por leis que transcendem nossa percepção sensorial.
Desenvolver “ouvidos de ouvir” é cultivar empatia, atenção e amor — não apenas para falar com outros homens ou com os Espíritos desencarnados, mas também para se integrar à grande sinfonia da vida que ressoa no mineral, no vegetal, no animal e no espiritual.
Link para a mensagem “A Energia entre Nós” citada no artigo.