Deve-se Expor a Vida por um Malfeitor?
Deve-se Expor a Vida por um Malfeitor? Uma Reflexão à Luz da Doutrina Espírita
A questão da exposição da própria vida para salvar um malfeitor é um tema de profunda complexidade moral e espiritual. Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Capítulo XI, Amar o Próximo como a Si Mesmo, apresenta a reflexão do espírito Lamennais sobre essa questão, que nos convida a uma análise mais profunda do dever cristão e da caridade em sua essência.
O Devotamento e a Lei do Amor
O Espiritismo, ao nos esclarecer sobre a imortalidade da alma e as consequências de nossos atos no período entre encarnações, nos ensina que o amor ao próximo deve ser irrestrito. O devotamento, conforme ensina Lamennais, não faz distinção entre aquele que é digno e aquele que não o é. Socorre-se um amigo, um desconhecido e até um inimigo, pois todos somos filhos de Deus e estamos sujeitos às leis de causa e efeito.
A lei do amor nos impele ao socorro incondicional, pois não nos cabe julgar o merecimento daquele que precisa de ajuda. Um malfeitor, segundo a concepção espiritual, é um irmão em erro, um espírito em processo de aprendizado, que poderá se regenerar pela experiência do sofrimento e pelo amparo moral que receber.
A Oportunidade de Regeneração
Ao salvar um malfeitor, pode-se estar concedendo a ele a oportunidade de uma reforma íntima. No momento crítico entre a vida e a morte, muitos experimentam um instante de lucidez espiritual, onde suas faltas passadas se tornam evidentes e despertam neles o arrependimento.
Se esse indivíduo fosse deixado à própria sorte e viesse a desencarnar sem uma reflexão, poderia partir carregando sentimentos de revolta e sofrimento, prolongando seu estado de perturbação espiritual no plano extrafísico. Contudo, se salvo por um ato de bondade desinteressada, poderia encontrar um caminho de arrependimento e reparação.
O Dever Moral e a Voz do Coração
Lamennais destaca que não cabe ao indivíduo indagar se o malfeitor se regenerará ou não, mas sim atender ao chamado da voz do coração. Essa voz, que nos impele ao bem, é a expressão da consciência espiritual superior. O Espiritismo ensina que somos responsáveis por nossos atos, mas não pelos resultados das escolhas alheias. Assim, nossa missão é fazer o bem, independentemente do que o outro fará com essa oportunidade.
O Medo e o Apego à Vida Física
Uma das dificuldades enfrentadas pelo ser humano ao considerar arriscar sua própria vida pelo outro é o apego à existência material. Entretanto, a Doutrina Espírita nos esclarece que a vida corporal é apenas uma etapa da existência eterna. Aquele que compreende a imortalidade da alma e a justiça divina sabe que, ao cumprir um dever moral, seguirá o caminho da evolução espiritual, independentemente das consequências físicas.
Esse pensamento não significa agir com imprudência, mas sim confiar na providência divina. O Espírito protetor e os benfeitores espirituais sempre estão a guiar aqueles que seguem o caminho do bem.
Considerações Finais
A exposição da própria vida para salvar um malfeitor é um ato de caridade suprema e um testemunho de fé na justiça divina. O Espiritismo nos convida a superar preconceitos e a enxergar além das aparências, compreendendo que todos os seres estão em jornada evolutiva.
Ao obedecer ao impulso do coração e agir pelo bem, o indivíduo coloca-se em harmonia com as leis divinas, contribuindo para sua própria evolução espiritual e para a redenção de seus semelhantes.