21 de maio de 2025

Elevação do Espírito Tutelar

Por O Redator Espírita
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A Elevação do Espírito Tutelar: Justiça, Amor e Companheirismo Espiritual

Na trajetória evolutiva do ser humano, uma das maiores dádivas concedidas pela Providência Divina é o amparo constante e silencioso dos Espíritos tuteladores — comumente chamados de protetores espirituais ou anjos guardiães. A Doutrina Espírita, com a clareza e a profundidade que lhe são características, nos oferece preciosos esclarecimentos sobre essa temática por meio de O Livro dos Espíritos, obra fundamental codificada por Allan Kardec.

Na pergunta de número 507, somos convidados a refletir sobre a condição evolutiva dos Espíritos protetores, sua função e os critérios que regem essa sublime missão. A resposta dos Espíritos Superiores nos revela verdades que, aliadas ao comentário profundo do Espírito Miramez, expandem nossa compreensão acerca da elevação moral e intelectual desses seres dedicados ao bem.

Este artigo tem por objetivo analisar de maneira detalhada a questão 507, alinhando-a com os ensinamentos de Miramez, presente na obra Filosofia Espírita, abordando aspectos como: a natureza e a hierarquia dos Espíritos tutelares, a justiça divina na designação de protetores, a influência deles sobre nossa existência, e o papel da prece, da gratidão e do merecimento nessa relação de tutela espiritual.

A Questão 507: Uma Janela para o Entendimento Espiritual

O Enunciado

A pergunta feita por Kardec é direta e prática:

“Pertencem todos os Espíritos protetores à classe dos Espíritos elevados? Podem contar-se entre os de classe média? Um pai, por exemplo, pode tornar-se o Espírito protetor de seu filho?”

A resposta, tão concisa quanto reveladora, afirma:

“Pode, mas a proteção pressupõe certo grau de elevação e um poder ou uma virtude a mais, concedidos por Deus. O pai, que protege seu filho, também pode ser assistido por um Espírito mais elevado.”

A Proteção: Ato de Virtude e Amor

A proteção espiritual, conforme nos ensina a resposta, não é uma atribuição casual. Exige certa elevação moral e espiritual, o que nos leva a compreender que não basta o vínculo afetivo ou a vontade de ajudar; é necessário possuir as qualidades e os méritos que permitam exercer essa função com eficácia e sabedoria. Assim, a tutela é antes de tudo um serviço de amor, virtude e renúncia, desempenhado por Espíritos que já superaram muitos dos embates das paixões humanas.

A Elevação dos Espíritos Tutores Segundo Miramez

O Espírito Miramez, comentando o mesmo tema na obra Filosofia Espírita, aprofunda nossa percepção da elevação dos tutores espirituais. Ele afirma:

“Os Espíritos protetores pertencem à classe dos Espíritos elevados, no entanto, não são iguais na elevação. Quem guia, é sempre mais elevado do que o guiado; o mestre deve ter mais conhecimento do que o discípulo, isso a própria razão nos diz com segurança.”

Essa afirmação amplia nossa visão da tutela espiritual como um sistema de hierarquia pedagógica, onde o mais sábio conduz o menos esclarecido, formando uma verdadeira corrente do bem.

Graus de Elevação

O esclarecimento de que os tutores são todos elevados, porém em graus diferentes, é essencial para entendermos a justiça divina. Assim como um professor do ensino básico possui conhecimentos suficientes para instruir seus alunos, mas ainda pode não dominar todos os saberes da ciência humana, os Espíritos tuteladores são designados conforme a necessidade e a capacidade de assimilação do tutelado.

Portanto, não há uniformidade absoluta na categoria dos protetores, mas há sim uma superioridade relativa, adequada ao momento evolutivo do ser humano assistido. Isso garante que o auxílio seja eficiente, sem gerar dependência, mas estimulando o progresso consciente do tutelado.

Justiça e Amor na Escolha dos Tutores Espirituais

A escolha do Espírito protetor é um ato de sabedoria e justiça por parte da espiritualidade superior. Deus, em sua perfeição, jamais designaria como protetor alguém que não tivesse condições morais e intelectuais para amparar e orientar.

A Justiça da Correspondência

Miramez afirma:
“A elevação do Espírito tutelar de cada ser está de acordo com a elevação deste. Eis aí a justiça que corresponde ao amor.”

Essa frase sintetiza um princípio fundamental da vida espiritual: a lei da correspondência vibratória. O Espírito tutelado atrai, por merecimento e necessidade, um guia proporcional ao seu grau evolutivo. Quanto mais se eleva moralmente, mais elevados são os Espíritos que se acercam dele.

Assim, a tutela espiritual não é uma concessão aleatória, mas parte de uma engrenagem harmônica do universo moral. Os tutores vêm como amigos mais velhos, companheiros de jornada que, por amor, aceitam a tarefa de nos acompanhar nos embates da vida.

A Paternidade Espiritual

Kardec pergunta se um pai pode tornar-se o Espírito protetor do próprio filho. A resposta é afirmativa, desde que possua as qualidades necessárias para isso. Isso nos revela que os laços afetivos terrestres podem transcender a morte e se manter sob novas formas de serviço e amparo. Contudo, o sentimento por si só não basta; é preciso aliar amor a virtude.

O Espírito Miramez amplia esse entendimento ao nos mostrar que mesmo esse pai, agora na erraticidade, pode também ser assessorado por um Espírito ainda mais elevado, formando uma cadeia de ajuda espiritual que une pais e filhos, amigos e irmãos, em comunhão de afetos e deveres.

Os Anjos Guardiães: Guias do Pensamento e da Consciência

Um dos trechos mais belos do comentário de Miramez é aquele que descreve poeticamente a forma como os Espíritos tutelares nos assistem:

“Aqueles a que chamamos de anjos da guarda, verdadeiramente são anjos que tomam a posição de guiarem os seus tutelados, respondendo todas as suas interrogações pelos fios que partem da sua mente em forma de pensamentos.”

Essa imagem do “fio de pensamento” é profundamente significativa. Ela revela a sutileza do intercâmbio espiritual, que se dá pelo pensamento e pela sintonia. O tutor espiritual não age de forma invasiva ou autoritária; ele inspira, sugere, aconselha, mas respeita profundamente o livre-arbítrio do tutelado.

A Ciência da Vida

Miramez ainda afirma:
“Eles conhecem a doutrina do amor e a ciência da vida.”

Essa definição dos anjos tuteladores nos convida à reverência e à gratidão. São seres que se dedicam ao nosso progresso com paciência, sabedoria e sacrifício. Sua ciência não é apenas intelectual; é ciência espiritual, aquela que une o saber ao amor, a técnica à compaixão.

Jesus e a Tutela Suprema

Miramez aprofunda ainda mais o tema ao afirmar que, no caso de Espíritos superiores como Jesus, a relação de tutela atinge níveis sublimes:

“O Espírito protetor direto de Jesus é Deus, com quem Ele confabula sempre e de quem recebe ordens diretamente para o que deve fazer.”

Essa colocação, de grande profundidade, nos mostra que até mesmo os Espíritos puros e missionários têm vínculos diretos com a Fonte Suprema. Embora Jesus fosse o mais elevado Espírito a encarnar na Terra, sua ligação com Deus é tão íntima que sua missão se tornou a própria manifestação da Vontade Divina.

Prece, Gratidão e Serviço: O Caminho para a Sintonia com o Protetor

A conexão com os Espíritos tuteladores pode ser intensificada por meio de práticas espirituais que elevem nossa vibração.

A Prece como Ponte de Luz

“Apega-te à oração, a qual deves fazer todos os dias. Ela abre caminhos para os planos de luz, e por eles verte a água da vida…” — ensina Miramez.

A prece sincera, feita com fé e humildade, é o mais eficaz elo entre o tutelado e o seu guia. Ela não precisa de fórmulas complicadas; basta que seja sentida e autêntica. Por meio dela, abrimos nossos canais mentais e emocionais à inspiração do bem.

Gratidão ao Tutor Espiritual

Aprender a amar e agradecer ao Espírito protetor é parte essencial do nosso crescimento espiritual. Eles sentem nossos pensamentos, se alegram com nosso progresso e sofrem com nossas quedas. A gratidão, expressa em atos de bondade, elevação moral e caridade, é a melhor forma de reconhecer seu trabalho.

A Responsabilidade da Reciprocidade

Ser tutelado é também assumir responsabilidades. Não se trata apenas de receber conselhos e amparo, mas de colaborar ativamente com o nosso progresso.

Caridade a Nós Mesmos

Miramez nos lembra:

“Cada dia é oportunidade de servir, de fazer caridade a nós mesmos, com os recursos do perdão, do trabalho honesto, do amor, da caridade, da alegria e da compreensão.”

Essas são as ferramentas que devemos utilizar para honrar o esforço dos nossos tutores espirituais. Agindo com retidão e consciência, favorecemos sua atuação e nos tornamos cocriadores da nossa libertação.

Conclusão: O Evangelho da Vida e a Esperança da Elevação

A tutela espiritual é uma das expressões mais belas da justiça e do amor divinos. Cada ser humano é acompanhado por um Espírito mais elevado, designado para guiá-lo nos caminhos da evolução. Essa relação é ajustada conforme o merecimento e as necessidades do tutelado, e pode envolver Espíritos familiares, amigos de outras existências ou seres desconhecidos que nos amam em Cristo.

A elevação do Espírito tutelar é sempre superior à do tutelado, mas varia conforme sua necessidade de aprendizado. Por isso, buscar o bem, a moralidade e o amor é também permitir que Espíritos mais iluminados se aproximem de nós.

Finalizo com o ensinamento de Miramez:

“Protege a todos os que necessitam da tua ajuda, como gratidão pelo que tens recebido dos teus tutelares espirituais.”

Sejamos, portanto, também tutores uns dos outros. Que possamos, em espírito de serviço e renúncia, repetir em nossa jornada as pegadas daqueles que, invisivelmente, caminham ao nosso lado.