17 de dezembro de 2024

Expulsão Bíblica de Demônios

Por O Redator Espírita
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O Que Se Deve Pensar da Expulsão Bíblica de Demônios?

A questão da expulsão de demônios, conforme narrada no Evangelho, é um tema que desperta interesse e provoca reflexão tanto no campo religioso quanto no espiritualista. No contexto das Escrituras Sagradas, encontramos diversas passagens que abordam curas e libertações de espíritos malignos, muitas vezes associando a enfermidade à presença de “demônios”. A Doutrina Espírita, por sua vez, oferece uma interpretação aprofundada e esclarecedora sobre essas questões, propondo um entendimento que vai além da literalidade das palavras, ressignificando a compreensão dos fenômenos espirituais.

Neste artigo, buscamos analisar, à luz da Doutrina Espírita, o que deve ser pensado sobre a expulsão dos demônios mencionada no Evangelho, a partir da pergunta 480 de “O Livro dos Espíritos”, sua resposta e do comentário do espírito Miramez na obra “Filosofia Espírita”. O objetivo é entender os mecanismos espirituais envolvidos nessa questão e refletir sobre a verdadeira cura e libertação propostas por Jesus, conforme o ensinamento espírita.

A Expulsão de Demônios no Contexto Bíblico

Na Bíblia, em passagens como a cura do endemoninhado gadareno e as várias expulsões de demônios realizadas por Jesus, observamos um fenômeno que, à primeira vista, parece ligado à luta entre forças do bem e do mal. Para muitos, a expulsão de demônios no Evangelho é interpretada de forma literal, com a ideia de espíritos malignos que se apossariam dos indivíduos e que, por meio da intervenção de Jesus, seriam expulsos, devolvendo ao corpo humano o equilíbrio e a saúde.

Contudo, é importante refletirmos sobre o que significa, de fato, a expressão “expulsão de demônios”. Será que esses “demônios” são, de fato, entidades espirituais malignas? Ou será que o evangelho, de maneira alegórica, está tratando de aspectos mais profundos do espírito humano, como suas imperfeições morais e emocionais?

A Resposta de Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”

Na pergunta 480 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec questiona os Espíritos sobre o significado da expulsão dos demônios mencionada no Evangelho, e a resposta que obtemos é, sem dúvida, uma das mais esclarecedoras dentro da visão espírita:

“Depende da interpretação que se lhe dê. Se chamais demônio ao mau Espírito que subjugue um indivíduo, desde que se lhe destrua a influência, ele terá sido verdadeiramente expulso. Se ao demônio atribuirdes a causa de uma enfermidade, quando a houverdes curado direis com acerto que expulsastes o demônio.”

Aqui, a resposta esclarece que a palavra “demônio” deve ser entendida conforme o contexto. Se considerarmos o “demônio” como um espírito inferior, que influencia negativamente uma pessoa, então sua expulsão pode ocorrer quando a influência desse espírito é removida. No entanto, se atribuirmos ao demônio a causa de uma enfermidade física, a “expulsão” ocorre quando a doença é curada, independentemente de uma intervenção espiritual explícita.

A conclusão aqui é clara: o conceito de “demônio” não deve ser visto como uma entidade personificada, mas sim como uma alegoria para os males espirituais e morais que afligem o ser humano. A verdadeira expulsão dos demônios ocorre com a transformação interior do indivíduo.

O Comentário do Espírito Miramez na Obra “Filosofia Espírita”

O espírito Miramez, na obra “Filosofia Espírita”, oferece uma reflexão mais profunda sobre o tema, ao questionar a ideia de “expulsão” dos demônios. Ele nos lembra que os chamados “demônios” são, na verdade, espíritos em processo de aprendizado e evolução, que ainda não atingiram a plenitude moral. Miramez nos convida a refletir sobre a verdadeira prática cristã de amor e caridade, argumentando que, em vez de “expulsar” os espíritos, devemos ajudá-los em seu processo de educação moral e espiritual.

“Não deves pensar em expulsar os demônios, mas em ajudá-los na sua educação, para que se tornem anjos”, afirma Miramez.

Essa frase nos leva a refletir sobre a verdadeira missão do espírita: não se trata de eliminar as influências espirituais negativas, mas de atuar no processo de transformação moral, tanto dos encarnados quanto dos desencarnados.

Além disso, Miramez explica que a ligação entre os seres humanos e os espíritos inferiores é resultado de uma afinidade espiritual, muitas vezes originada em vícios e atitudes desarmoniosas. Portanto, a solução para a obsessão espiritual não está na expulsão do espírito, mas na cura das causas que geram essa afinidade, ou seja, a mudança de atitudes, pensamentos e ações que atraem essas influências negativas.

A Expulsão de Demônios como Metáfora para a Transformação Interior

A Doutrina Espírita nos ensina que a cura das enfermidades e a libertação das influências espirituais negativas não se dá por fórmulas mágicas ou exorcismos, mas pelo trabalho contínuo de reforma íntima. A verdadeira expulsão dos demônios se dá, portanto, quando o indivíduo se liberta dos pensamentos negativos, das emoções desequilibradas e das atitudes que atraem espíritos inferiores.

Miramez destaca que a prece verdadeira não é aquela que apenas invoca a ajuda espiritual, mas a prece da vida, ou seja, a maneira como vivemos e aplicamos os ensinamentos de Jesus em nosso cotidiano. Ao buscar viver conforme os princípios cristãos, harmonizando nossa mente com a mente de Cristo, estamos promovendo a verdadeira cura, tanto para nós mesmos quanto para os espíritos que nos acompanham.

A Expulsão de Demônios e a Responsabilidade do Espírita

No contexto espírita, a expulsão de demônios deve ser vista não como um ato de afastar espíritos, mas como um trabalho de educar e iluminar, trazendo os espíritos obsessores para o caminho do amor e da fraternidade. O espírita, ao se esforçar para viver uma vida moralmente equilibrada e espiritualmente elevada, se torna um farol de luz para aqueles que ainda se encontram nas sombras.

A verdadeira ajuda aos espíritos inferiores não é feita através de atos de força ou de imposição, mas sim pela prática constante de virtudes como a paciência, o perdão, a caridade e o amor incondicional. Quando nos comprometemos com o nosso próprio aprimoramento moral, automaticamente criamos condições para ajudar outros a se libertarem das influências negativas que os aprisionam.

Conclusão

A expulsão dos demônios, conforme entendida pela Doutrina Espírita, não é uma luta contra entidades malignas externas, mas um processo de transformação interior. A resposta dada pelos Espíritos a Allan Kardec na questão 480 de “O Livro dos Espíritos” e o comentário do espírito Miramez nos ajudam a compreender que a verdadeira cura se dá pela reeducação espiritual e pela prática do amor, que é a única força capaz de iluminar os espíritos errantes e libertar-nos das influências negativas.

A expulsão dos demônios, portanto, é uma metáfora para o processo de transformação espiritual, no qual o ser humano se liberta dos pensamentos e ações que atraem espíritos inferiores e se aproxima da verdade e da luz de Jesus. A Doutrina Espírita nos convida a olhar para os chamados “demônios” com olhos de compaixão e amor, reconhecendo que eles são, como nós, irmãos em evolução, e que a única maneira de os ajudar é oferecendo-lhes a educação moral e espiritual que os conduz à verdadeira libertação.