Mediunidade e Ética
Mediunidade e Ética: Desafios do Médium no Campo do Orgulho e da Vaidade
A mediunidade, em sua essência, é um dom divino concedido aos homens para o serviço no bem e na propagação das verdades espirituais. Contudo, como qualquer outra habilidade ou sensibilidade, ela não está isenta dos desafios da personalidade humana, sobretudo aqueles relacionados ao orgulho e à vaidade. Esses obstáculos, muitas vezes imperceptíveis no início, podem desviar o médium de seu propósito principal, prejudicando não apenas seu desenvolvimento espiritual, mas também a harmonia do ambiente onde atua.
Neste artigo, examinaremos a importância da ética na prática mediúnica, com ênfase nos desafios do orgulho e da vaidade. Também abordaremos situações práticas, como a valorização igualitária de todas as funções dentro de um centro espírita, desde a limpeza física até o trabalho nas câmaras mediúnicas, destacando que o verdadeiro médium deve ser antes de tudo um trabalhador do Cristo, humilde e disposto a servir onde for necessário.
A Mediunidade e Seu Propósito
No Espiritismo, entendemos que a mediunidade não é um privilégio, mas uma oportunidade de aprendizado e serviço. Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, deixa claro que o médium é um instrumento das forças espirituais, chamado a colaborar na edificação moral da humanidade. É um servo do Alto, e não um expoente de sua própria personalidade ou vontades.
Os Espíritos superiores, frequentemente, recordam que a mediunidade não é um distintivo de superioridade espiritual. Pelo contrário, muitas vezes ela é uma prova, concedida a espíritos em aprendizado para que, por meio do serviço ao próximo, possam reparar erros passados e avançar em sua jornada evolutiva.
Essa compreensão deveria, por si só, bastar para manter o médium distante dos perigos do orgulho e da vaidade. Contudo, na prática, vemos que esses sentimentos frequentemente se infiltram, exigindo atenção constante.
O Orgulho e a Vaidade no Exercício Mediúnico
O orgulho é um sentimento que leva o indivíduo a se considerar superior aos outros, enquanto a vaidade é o desejo de ser reconhecido, elogiado ou admirado. Ambos são grandes entraves no campo mediúnico, pois distorcem as intenções e fragilizam a conexão do médium com os planos superiores.
Sinais de Orgulho e Vaidade no Médium
Exclusivismo e Hierarquização
Alguns médiuns começam a se enxergar como mais importantes do que outros trabalhadores do centro, especialmente aqueles que desempenham funções consideradas “menos nobres”, como a limpeza, o preparo do ambiente físico ou a organização de eventos.
Um exemplo comum é o médium que se recusa a participar das tarefas práticas sob o argumento de que seu “dom mediúnico” exige dedicação exclusiva às câmaras ou reuniões mediúnicas. Esse comportamento demonstra falta de entendimento sobre a igualdade de valor entre todas as funções na Casa Espírita.
Desejo de Protagonismo
A vaidade se manifesta no desejo de ser o centro das atenções, seja por meio de mensagens espetaculares, pela busca de reconhecimento público ou pela imposição de suas opiniões como superiores às dos demais.
Resistência ao Feedback e à Correção
O médium orgulhoso costuma resistir à orientação dos dirigentes ou dos Espíritos protetores, acreditando que já possui pleno domínio de suas faculdades e não precisa ser orientado.
Separatismo Moral
Outro comportamento típico é o sentimento de superioridade moral em relação aos demais trabalhadores, julgando-os como menos evoluídos ou espiritualmente preparados.
A Igualdade no Serviço Espírita
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XV, encontramos o ensinamento: “Fora da caridade não há salvação.” Esse princípio deixa claro que o valor do trabalhador não está na função que desempenha, mas na disposição amorosa com que serve.
Dentro de um centro espírita, todas as tarefas são indispensáveis. A limpeza do ambiente físico, por exemplo, é tão necessária quanto a limpeza espiritual, pois ambas contribuem para a harmonia da Casa. Ignorar essa interdependência é um erro que revela uma visão superficial do trabalho no bem.
O Exemplo de Jesus
Jesus, em sua passagem pela Terra, deu repetidas lições de humildade e serviço. Lavou os pés dos apóstolos, demonstrando que nenhuma tarefa é indigna quando realizada com amor. Esse exemplo é especialmente relevante para os médiuns, que devem se lembrar de que são, antes de tudo, servidores do Cristo.
Superando o Orgulho e a Vaidade na Prática Mediúnica
Para superar esses desafios, o médium deve adotar uma postura constante de vigilância e humildade. Eis algumas diretrizes práticas:
Autoconhecimento e Reflexão
O médium deve avaliar constantemente suas motivações e atitudes, buscando identificar sinais de orgulho ou vaidade. A prece e a meditação são ferramentas valiosas nesse processo.
Trabalho em Equipe
Participar de todas as atividades do centro espírita, incluindo as tarefas práticas, ajuda a cultivar a humildade e a percepção de que todos são igualmente importantes.
Aceitação de Orientações
Ouvir com atenção as orientações dos dirigentes e dos Espíritos superiores é essencial para manter o alinhamento ético e espiritual.
Estudo e Educação Continuada
O estudo constante da doutrina espírita ajuda o médium a manter sua consciência alinhada com os princípios do Evangelho e a evitar desvios.
Exercício do Silêncio e da Discrição
O médium deve evitar a busca de elogios ou reconhecimentos públicos, lembrando que a mediunidade é um serviço silencioso e desinteressado.
O Valor do Trabalho Humilde
Nos livros de André Luiz, vemos inúmeros relatos de Espíritos que, antes de assumirem funções de grande responsabilidade, passaram por tarefas humildes, como a limpeza ou o atendimento aos necessitados. Essas experiências são fundamentais para o desenvolvimento da verdadeira humildade, que é a base de toda elevação espiritual.
Conclusão
A mediunidade é uma oportunidade sublime de aprendizado e serviço, mas exige do médium uma vigilância constante contra os desvios do orgulho e da vaidade. No centro espírita, todas as funções são igualmente valiosas, e o verdadeiro trabalhador é aquele que se dispõe a servir onde for necessário, sem distinção.
Que possamos, à luz do Evangelho de Jesus, refletir sobre nossas posturas e nos esforçar para sermos instrumentos humildes e eficazes nas mãos do Criador, lembrando sempre que “o maior no Reino dos Céus é aquele que mais serve”.