Neutralizando a Influência de Espíritos Inferiores
Como Neutralizar a Influência de Espíritos Inferiores: Reflexões à Luz da Doutrina Espírita
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece uma visão ampla e profunda da interação entre o mundo espiritual e o material. Uma das questões mais recorrentes entre os estudiosos e praticantes do Espiritismo é a influência que os Espíritos podem exercer sobre os encarnados, especialmente os Espíritos inferiores, que, ainda presos a paixões e ignorâncias, podem buscar desviar o ser humano de seu progresso moral e espiritual.
Nesse contexto, surge a pergunta 469 de O Livro dos Espíritos, na qual Kardec questiona: “Por que meio podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos?” A resposta, clara e direta, aponta o caminho da prática do bem e da confiança em Deus como as ferramentas mais eficazes para repelir essa influência.
Aprofundando-se nessa resposta, e com o auxílio do comentário esclarecedor do Espírito Miramez, presente na obra Filosofia Espírita, é possível delinear um entendimento mais amplo e prático sobre como devemos conduzir nossa vida para nos protegermos e, mais que isso, nos elevarmos espiritualmente, ao ponto de nos tornarmos invulneráveis às más influências espirituais.
A Influência dos Espíritos Inferiores
Antes de entrarmos nas maneiras de neutralizar a influência dos Espíritos inferiores, é importante entender quem são esses Espíritos e como se dá essa influência. Kardec nos ensina que os Espíritos inferiores são aqueles que, em seu estágio evolutivo, ainda estão fortemente ligados a sentimentos e paixões terrenas, como o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ódio e a vingança. Esses Espíritos, por ignorância ou maldade, buscam interferir no livre-arbítrio dos encarnados, instigando maus pensamentos, ações prejudiciais e o desvio do caminho do bem.
A ação desses Espíritos se dá, principalmente, através da sugestão mental. Como Kardec explica, os Espíritos não têm poder direto sobre nós a menos que abramos a porta para eles através de nossos próprios pensamentos e atitudes.
Em outras palavras, a afinidade vibratória que cultivamos é o canal pelo qual esses Espíritos podem nos influenciar. Se nos deixamos dominar por sentimentos inferiores, criamos uma sintonia com esses Espíritos e facilitamos sua ação sobre nós.
A Lei da Afinidade Espiritual
A Doutrina Espírita nos ensina que semelhante atrai semelhante, e isso se aplica tanto ao plano material quanto ao espiritual. Se nos envolvemos em atitudes de maldade, desamor e egoísmo, nossa vibração espiritual torna-se densa e pesada, e atraímos Espíritos que vibram na mesma frequência. Esses Espíritos, por sua vez, reforçam em nós os sentimentos e pensamentos negativos, criando um círculo vicioso difícil de romper.
Por outro lado, quando cultivamos virtudes como o amor, a caridade e o perdão, nossa vibração espiritual se eleva e passamos a atrair Espíritos de luz, que nos inspiram e auxiliam em nossa jornada evolutiva. Dessa forma, fica claro que a primeira medida para neutralizar a influência dos Espíritos inferiores é elevar nossa própria vibração espiritual através da prática constante do bem.
O Caminho para a Neutralização: A Prática do Bem e a Confiança em Deus
Na resposta à pergunta 469, os Espíritos superiores nos dizem que o meio mais eficaz para neutralizar a influência dos maus Espíritos é “praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança”. Esta resposta, simples em sua essência, carrega uma profundidade de ensinamentos que precisa ser cuidadosamente analisada.
A Prática do Bem
O bem, como nos ensina a Doutrina Espírita, não é apenas a ausência do mal, mas a ação consciente e deliberada em favor do próximo, em consonância com as leis divinas. Quando praticamos o bem, elevamos nossa sintonia espiritual, distanciando-nos naturalmente das vibrações inferiores que poderiam nos conectar com Espíritos mal-intencionados.
O Espírito Miramez, em seu comentário sobre o tema, nos alerta que “o bem é força poderosa contra o mal, é o antídoto da influência do mal”. Ele nos lembra que, mesmo que estejamos nos esforçando para nos melhorar, ainda podemos ser influenciados por Espíritos inferiores devido aos resquícios de paixões inferiores que ainda trazemos em nosso íntimo. A pureza espiritual, como ele bem destaca, é um processo demorado e gradual, que requer muitas reencarnações para ser plenamente alcançada.
Por isso, é fundamental que não nos deixemos abater pelas dificuldades e obstáculos que encontramos em nossa jornada. Devemos, sim, praticar o bem de forma contínua, persistente, mesmo quando não sentimos resultados imediatos. O bem é, por si só, uma proteção, pois eleva nossa vibração e nos conecta diretamente com os Espíritos superiores, que passam a nos auxiliar e nos guiar.
A Confiança em Deus
Além da prática do bem, a confiança em Deus é um pilar fundamental para neutralizar a influência dos Espíritos inferiores. Quando confiamos em Deus de maneira plena, entregamos nossas dificuldades e aflições a uma força maior, que governa o universo com justiça e sabedoria infinitas.
Miramez reforça essa ideia ao afirmar que “confiar em Deus é a chave-mestra para o isolamento dos Espíritos inimigos”, mas ele nos alerta que essa confiança deve ser genuína, e não pode coexistir com o mal. Ou seja, não adianta dizer que confiamos em Deus enquanto ainda cultivamos sentimentos e atitudes que nos afastam de Sua bondade e amor.
A confiança em Deus nos dá a serenidade necessária para enfrentar as provações da vida com coragem e resignação, e isso inclui a luta contra as influências espirituais negativas. Quando estamos firmes em nossa fé, temos a convicção de que, por mais difícil que seja a batalha, jamais estaremos sozinhos.
Deus, em Sua infinita misericórdia, coloca à nossa disposição todos os recursos necessários para que possamos vencer as influências negativas e avançar em nosso caminho evolutivo.
O Papel dos Pensamentos
Outro aspecto fundamental abordado tanto por Kardec quanto por Miramez é a importância de nossos pensamentos na neutralização da influência dos Espíritos inferiores. Como mencionado anteriormente, a sintonia espiritual se dá, em grande parte, pela qualidade de nossos pensamentos.
Se cultivamos pensamentos de raiva, rancor, inveja ou orgulho, estamos sintonizando com Espíritos que vibram nessas mesmas frequências. Por outro lado, se mantemos pensamentos elevados, de amor, caridade e fraternidade, nossa sintonia será com Espíritos superiores.
Miramez nos adverte que “entre os pensamentos há certos intervalos, onde agem os Espíritos inferiores, com suas sugestões inconvenientes”. Isso significa que, se não estivermos vigilantes em relação aos nossos pensamentos, podemos abrir espaço para que Espíritos inferiores implantem em nossa mente ideias negativas. A vigilância dos pensamentos é, portanto, uma prática indispensável para quem deseja se proteger das influências espirituais negativas.
O Controle dos Pensamentos
O controle dos pensamentos não é uma tarefa fácil, especialmente em um mundo onde somos constantemente bombardeados por estímulos negativos. No entanto, é possível desenvolver essa habilidade através da disciplina mental e da oração. Kardec nos ensina que a oração é uma poderosa ferramenta para elevar nossos pensamentos e nos conectar com os Espíritos superiores.
Miramez reforça essa ideia ao afirmar que “a oração é força poderosa para ajudar na neutralização das investidas das sombras em nossos caminhos”. Através da oração, criamos uma espécie de “carapaça” espiritual que nos protege das influências negativas. Mais do que uma prática religiosa, a oração é um momento de conexão com o divino, onde podemos pedir ajuda, orientação e proteção.
A Importância da Perseverança
Um ponto que merece destaque é a necessidade de perseverança no bem. Miramez nos alerta que, muitas vezes, achamos que estamos livres das influências negativas apenas porque começamos a praticar o bem. No entanto, ele nos lembra que “somente quando passamos a viver o bem ininterruptamente é que não deixamos lugar para os pensamentos inferiores entrarem em nossa casa mental”.
Isso significa que o bem deve ser uma prática constante e diária, e não algo que fazemos apenas ocasionalmente. Se deixarmos de praticar o bem, mesmo que por algumas horas, abrimos espaço para que as influências negativas se instalem. Portanto, é essencial que o bem se torne um hábito, uma segunda natureza, algo que fazemos de maneira automática, sem esforço.
Conclusão
Neutralizar a influência dos Espíritos inferiores não é uma tarefa simples, mas também não é impossível. A prática do bem, a confiança em Deus, o controle dos pensamentos e a oração são as ferramentas que temos à disposição para nos proteger dessas influências e avançar em nosso caminho evolutivo. Como nos ensinam Kardec e Miramez, não basta evitar o mal; é preciso viver o bem de maneira plena e constante, para que possamos nos elevar espiritualmente e nos afastar das sombras.
A Doutrina Espírita nos oferece todos os recursos necessários para essa jornada. Cabe a nós, como Espíritos em evolução, aplicarmos esses ensinamentos em nosso dia a dia, com fé, perseverança e amor.