O Egoísmo segundo Emmanuel
O Egoísmo segundo Emmanuel: Ensinamentos do Evangelho

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec sob a inspiração dos Espíritos Superiores, trouxe à Humanidade uma visão renovada do Evangelho de Jesus, descortinando verdades eternas à luz da razão e da fé raciocinada. Entre os muitos temas que se destacam em O Evangelho Segundo o Espiritismo, poucos são tão impactantes e universais quanto a advertência contra o egoísmo.
No capítulo XI, intitulado “Amar ao próximo como a si mesmo”, encontramos a seção “Instruções dos Espíritos”, na qual Emmanuel, Espírito benfeitor conhecido pela profundidade de suas lições morais, nos oferece uma reflexão vigorosa sobre a chaga do egoísmo. Suas palavras ecoam como um chamado para a transformação íntima, mostrando que o egoísmo é o maior obstáculo ao progresso moral da Terra e à realização plena da mensagem cristã.
Este artigo tem como objetivo estudar de forma minuciosa o item 11 do capítulo citado, analisando seus conceitos, suas implicações morais e espirituais, além de refletir sobre como tais ensinamentos se aplicam à vida cotidiana do espírita e da Humanidade em geral.
O egoísmo como chaga da Humanidade
Emmanuel inicia sua mensagem com uma afirmação categórica:
“O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta.”
Essa declaração, ainda atual em nossos dias, evidencia que o egoísmo não é apenas uma falha individual, mas uma ferida coletiva, responsável por paralisar o avanço espiritual da Humanidade. A metáfora da “chaga” sugere uma enfermidade persistente, dolorosa e que corrói silenciosamente as relações humanas.
Do ponto de vista doutrinário, o egoísmo é compreendido como o predomínio do interesse pessoal sobre o interesse coletivo, uma consequência direta do orgulho, que é, por sua vez, a raiz das imperfeições morais. Enquanto o orgulho isola o indivíduo em uma falsa superioridade, o egoísmo o fecha em um círculo estreito, incapaz de enxergar as necessidades do próximo.
O progresso moral da Terra, condição para sua ascensão na escala dos mundos habitados, depende do esforço humano em superar essa chaga. Emmanuel aponta que o Espiritismo tem papel fundamental nesse processo, pois sua missão é justamente acelerar a reforma íntima e a vivência da caridade.
O papel do Espiritismo na erradicação do egoísmo
Ainda no início do texto, Emmanuel afirma:
“Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la ascender na hierarquia dos mundos.”
Aqui, temos um dado essencial: a missão do Espiritismo não é apenas esclarecer intelectualmente, mas promover uma transformação moral capaz de preparar a Terra para um estágio superior de evolução. Essa elevação, porém, não pode ocorrer enquanto o egoísmo dominar as ações humanas.
O Espiritismo, ao revelar a imortalidade da alma, a lei de causa e efeito, a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados, amplia a consciência do homem sobre sua responsabilidade diante da vida. Essa visão amplia a noção de fraternidade universal, condição necessária para que o amor ao próximo seja vivido de forma autêntica.
Se o egoísmo é a doença, o Espiritismo se apresenta como um dos remédios espirituais mais eficazes, porque convida o indivíduo a olhar além de si mesmo, percebendo-se como parte de uma imensa família espiritual.
A coragem necessária para vencer o egoísmo
Emmanuel prossegue:
“O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem. Digo: coragem, porque dela muito mais necessita cada um para vencer-se a si mesmo, do que para vencer os outros.”
A luta contra o egoísmo é, antes de tudo, uma luta íntima. É mais difícil dominar a si mesmo do que vencer batalhas externas. Enquanto o mundo frequentemente valoriza conquistas materiais, títulos e vitórias sociais, o Cristo nos convida à maior de todas as vitórias: a vitória sobre o próprio coração.
Essa coragem moral consiste em reconhecer nossas próprias imperfeições e trabalhar persistentemente para superá-las. O egoísmo não se manifesta apenas em grandes atitudes de exploração ou indiferença, mas também em pequenos gestos cotidianos: a impaciência, a intolerância, a falta de empatia, o apego excessivo aos bens, o descaso com o sofrimento alheio.
Cada vez que optamos pela caridade, pelo altruísmo e pelo amor, travamos uma batalha silenciosa contra o egoísmo que insiste em dominar-nos.
O egoísmo como filho do orgulho
Outro ponto marcante do texto é quando Emmanuel classifica o egoísmo:
“Esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno.”
Aqui, o Espírito nos oferece uma chave de compreensão: o egoísmo nasce do orgulho. O orgulho cria a ilusão de superioridade, enquanto o egoísmo alimenta a falsa ideia de que o bem-estar pessoal é mais importante do que o coletivo.
Ao chamar o egoísmo de “monstro devorador de todas as inteligências”, Emmanuel denuncia como ele obscurece a razão, conduzindo o homem a usar sua capacidade intelectual de forma destrutiva. A história da humanidade oferece inúmeros exemplos de como o egoísmo, associado ao orgulho, gerou guerras, desigualdades, injustiças sociais e sofrimentos coletivos.
A negação da caridade, fruto do egoísmo, é portanto o maior obstáculo à felicidade verdadeira. Isso porque a felicidade não pode ser construída sobre a base da indiferença e da exclusão, mas apenas sobre o amor e a solidariedade.
O contraste entre Jesus e Pilatos
Para ilustrar a oposição entre caridade e egoísmo, Emmanuel recorre a um exemplo simbólico:
“Jesus vos deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo…”
Jesus, ao se entregar ao martírio com serenidade, demonstrou o amor supremo, a caridade em sua expressão mais elevada. Pilatos, ao “lavar as mãos” e eximir-se da responsabilidade, representa o egoísmo da indiferença, do comodismo, do “que me importa”.
Esse contraste nos convida a refletir sobre nossas próprias escolhas. Quantas vezes nos assemelhamos a Pilatos, lavando as mãos diante das injustiças, omitindo-nos frente ao sofrimento alheio, refugiando-nos no conforto da indiferença?
Seguir o Cristo significa assumir a responsabilidade pela prática do bem, mesmo quando isso implica sacrifícios pessoais. O egoísmo, ao contrário, sempre busca o caminho mais fácil, o da neutralidade aparente, que nada mais é do que fuga da responsabilidade moral.
O antagonismo entre caridade e egoísmo
Emmanuel sintetiza:
“É a esse antagonismo entre a caridade e o egoísmo (…) que se deve atribuir o fato de não haver ainda o Cristianismo desempenhado por completo a sua missão.”
O Cristianismo, em sua essência, é a lei do amor. No entanto, ao longo dos séculos, o egoísmo humano tem distorcido e dificultado a vivência plena dessa mensagem. As guerras religiosas, as disputas de poder, a exploração econômica e social são exemplos de como o egoísmo maculou o testemunho cristão.
O Espiritismo vem justamente para resgatar o Cristianismo em sua pureza original, não mais limitado a formas exteriores, mas centrado na prática da caridade e na transformação íntima. Enquanto o egoísmo predominar, a missão do Cristianismo permanecerá incompleta.
A missão dos novos apóstolos da fé
A mensagem culmina com um chamado vigoroso:
“Cabem-vos a vós, novos apóstolos da fé, (…) o encargo e o dever de extirpar esse mal, a fim de dar ao Cristianismo toda a sua força e desobstruir o caminho…”
Aqui, Emmanuel se dirige aos espíritas, denominando-os “novos apóstolos”. Essa expressão carrega grande responsabilidade: não basta professar a fé espírita, é necessário testemunhá-la por meio de atitudes.
O encargo que nos é confiado é combater o egoísmo, primeiramente em nossos próprios corações, para que possamos contribuir com a renovação da sociedade. Essa é a missão que prepara a Terra para ascender na escala dos mundos: uma Humanidade capaz de viver a fraternidade real.
A Terra e sua transição espiritual
Por fim, Emmanuel anuncia:
“Expulsai da Terra o egoísmo para que ela possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de a Humanidade envergar sua veste viril…”
A Terra encontra-se em processo de transição espiritual, passando de mundo de expiações e provas para mundo de regeneração. Esse avanço, porém, exige a superação coletiva do egoísmo.
A “veste viril” mencionada por Emmanuel simboliza a maturidade espiritual da Humanidade. Chega o tempo de abandonar a infância moral, marcada por disputas egoísticas, para assumir uma postura adulta diante das leis divinas.
A regeneração do planeta não é um evento mágico ou externo; é consequência do esforço humano em viver a caridade, em substituir o egoísmo pela fraternidade. Cada coração que se reforma contribui para que a Terra dê mais um passo rumo à sua destinação gloriosa.
O maior obstáculo à felicidade humana
O estudo da mensagem de Emmanuel em O Evangelho Segundo o Espiritismo nos revela que o egoísmo é, de fato, o maior obstáculo à felicidade humana e ao progresso do mundo. Como chaga da Humanidade, ele precisa ser combatido não apenas em teorias, mas na prática cotidiana, por meio da caridade ativa, do amor ao próximo e da coragem moral de vencer a si mesmo.
O Espiritismo nos chama à responsabilidade de sermos “novos apóstolos da fé”, colaborando com a obra de Jesus e preparando a Terra para sua ascensão. O combate ao egoísmo é, portanto, uma tarefa inadiável, que começa em nossos corações e se estende às nossas relações sociais, familiares e comunitárias.
Seguir os ensinamentos de Emmanuel significa assumir a luta contra a indiferença, contra o orgulho e contra a ilusão de superioridade, para que possamos viver plenamente a caridade que Jesus exemplificou.
Assim, poderemos dizer que estamos realmente trabalhando pela vitória do amor sobre o egoísmo, pela luz sobre as sombras e pela transformação da Terra em um mundo mais justo, fraterno e feliz.