O Mercado Literário Espírita
O Mercado Literário Espírita: Médiuns sem Espaço Devem Compartilhar suas Psicografias na Internet?
A literatura espírita sempre foi um dos pilares fundamentais da disseminação da Doutrina dos Espíritos, servindo como meio para o estudo, a reflexão e o esclarecimento dos encarnados sobre a realidade do mundo espiritual.
Contudo, a crescente burocratização do mercado editorial espírita, que deveria ser um instrumento de difusão do conhecimento e da verdade espiritual, tem o tornado, em muitos casos, em um sistema de controle e limitação da expressão mediúnica.
Sob o pretexto de preservar a pureza doutrinária, muitas editoras e instituições estabelecem barreiras quase intransponíveis para que novos médiuns publiquem suas obras, criando um oligopólio que impede a livre circulação das mensagens espirituais.
Essa situação levanta um questionamento fundamental: não seria mais adequado que os médiuns, ao invés de buscarem a aprovação dessas instâncias limitadoras, compartilhassem suas psicografias livremente na internet, permitindo que cada indivíduo exercesse seu próprio discernimento?
A Dinâmica Comercial do Mercado Literário Espírita
O primeiro ponto a ser abordado é a contradição inerente ao mercado editorial espírita: embora sua missão devesse ser exclusivamente a difusão do conhecimento espiritual, ele se estrutura como um mercado comercial convencional. Livros são vendidos, não distribuídos gratuitamente. Há royalties, contratos de exclusividade e restrições que, em muitos casos, impedem que os conteúdos cheguem ao público caso não sejam aprovados pelos detentores do controle editorial.
A prática adotada por editoras e instituições como a Federação Espírita Brasileira (FEB) é a de manter o domínio sobre as publicações mediúnicas, travando a expressão dos espíritos comunicantes ao restringi-los a determinados médiuns e editoras. Dessa forma, criam uma espécie de “marca registrada” de determinados espíritos, desconsiderando que os mesmos não pertencem a nenhum indivíduo ou instituição.
Ramatis, em sua carta pública de esclarecimento, escancarou essa realidade ao afirmar que o mercado editorial espírita aprisiona os espíritos comunicantes, impedindo que suas mensagens sejam difundidas livremente. Ele denuncia um esquema no qual livros são censurados ou mesmo têm os nomes dos espíritos alterados para se adequarem aos interesses comerciais das editoras.
A FEB e o Engessamento da Literatura Espírita
Muitos defensores da burocracia editorial espírita argumentam que toda psicografia deve passar pela FEB para avaliação e aprovação. Esse posicionamento apenas reforça a necessidade de romper com tais amarras. A FEB, ao longo das décadas, assumiu um papel centralizador, determinando o que pode ou não ser aceito como autêntico dentro do Espiritismo, mesmo quando não há qualquer previsão na codificação kardequiana para tal controle institucional.
Por que uma entidade terrena deveria ter o poder de decidir quais mensagens espirituais podem ser disseminadas? Quem garante que sua avaliação é infalível? É preciso lembrar que a Doutrina Espírita não pertence à FEB, nem a qualquer outra instituição. A ideia de que um grupo seleto pode validar ou invalidar comunicações mediúnicas fere a liberdade de expressão dos espíritos e compromete a expansão do conhecimento.
Portanto, romper com esse enrijecimento é uma necessidade. Se novos médiuns desejam divulgar suas mensagens, devem fazê-lo de forma independente, sem se sujeitar à censura de um mercado que mais visa interesses comerciais do que a verdadeira propagação do Espiritismo.
O Crivo da Razão é de Cada Consciência
Entretanto, é comum o argumento de que toda obra psicografada deve passar pelo crivo de instituições como a Federação Espírita Brasileira (FEB), a fim de garantir sua autenticidade doutrinária. Esse pensamento, embora bem-intencionado, é a base do engessamento do mercado literário espírita.
A centralização das aprovações e a exclusividade das publicações por determinados grupos reforçam o monopólio e dificultam a evolução do pensamento espírita. A Doutrina Espírita nunca foi e nunca será dogmática, e a insistência nesse modelo arcaico é uma tentativa de institucionalizar o Espiritismo, transformando-o em uma religião fechada e hierarquizada, contrariando seu próprio caráter livre-pensador.
A divulgação das psicografias deve ocorrer sem entraves institucionais, mas o julgamento da veracidade e do valor das mensagens deve ser feito por cada indivíduo, através do uso da razão e do discernimento. O Espiritismo sempre defendeu o livre-arbítrio e a responsabilidade pessoal, e isso deve se aplicar também às obras mediúnicas.
Em vez de delegar essa responsabilidade a editoras e federações que impõem filtros baseados em interesses comerciais e institucionais, devemos confiar na capacidade de cada leitor de analisar e decidir por si mesmo o que lhe ressoa como verdade. Isso não significa que todas as psicografias sejam autênticas ou inquestionáveis, mas sim que a análise deve ser individual, não imposta por um comitê burocrático.
Se por um lado, a prática do compartilhamento gratuito de obras espíritas ainda é incipiente, por outro lado, é uma tendência inevitável. Os altos preços cobrados por editoras para publicação e comercialização dos livros tornam o acesso ao conhecimento mais restrito, enquanto a internet proporciona um caminho alternativo e mais inclusivo. Além disso, o hábito de leitura tem migrado cada vez mais para o meio digital, tornando os livros físicos uma opção cara e menos viável para muitas pessoas. Com essa transição, o monopólio do mercado literário espírita perderá sua relevância, e o crivo das obras passará a residir na consciência e na razão de cada leitor, como deve ser.
A Internet Como Ferramenta de Libertação
Médiuns desconhecidos, sem vínculos com editoras, encontram-se em uma posição de grande desvantagem. Muitos recebem mensagens autênticas e valiosas do plano espiritual, mas não conseguem publicá-las porque o mercado é controlado por poucos. Em muitos casos, esses médiuns acabam abandonando a prática da psicografia ou se submetem às exigências editoriais, alterando o conteúdo das mensagens para se adequarem ao que é aceito comercialmente. Isso representa uma grave distorção dos princípios espíritas, que devem prezar pela liberdade e pela verdade acima de qualquer interesse econômico.
Se o mercado editorial espírita impõe barreiras e a FEB insiste em filtrar as mensagens mediúnicas de acordo com seus próprios critérios, resta aos médiuns recorrerem às ferramentas livres que têm à disposição. A internet se apresenta como o meio mais eficaz para romper as amarras da censura editorial e possibilitar que mensagens espirituais sejam compartilhadas amplamente, sem intermediários interessados em ganhos financeiros.
A resistência contra essa liberdade de difusão não parte apenas das editoras, mas também de mentes conservadoras que se recusam a aceitar a mudança. Contudo, não há justificativa plausível para impedir que conteúdos espirituais sejam livremente divulgados. A Doutrina dos Espíritos não pode ser reduzida a um produto de mercado.
Conclusão: Rompendo o Monopólio e Expandindo o Conhecimento
O Espiritismo sempre teve como base o estudo e a busca pela verdade. Permitir que um grupo seleto detenha o controle da literatura espírita é uma afronta aos princípios kardequianos. Os espíritos comunicantes não pertencem a nenhuma editora, e suas mensagens não devem ser reféns de interesses comerciais.
Médiuns sem espaço no mercado editorial devem, sim, divulgar suas psicografias na internet, onde a informação pode circular livremente e sem as amarras da censura institucionalizada. O compromisso deve ser com a verdade, não com os interesses de editoras e instituições que se arrogam no direito de controlar aquilo que deve ou não ser publicado.
O tempo do monopólio editorial espírita precisa chegar ao fim. A liberdade de expressão mediúnica deve prevalecer sobre qualquer estrutura burocrática. Como bem pontuou Ramatis, os espíritos não são marcas registradas. Eles são agentes da vontade divina, e sua mensagem deve ser levada a todos que desejam escutá-la, sem barreiras ou intermediários comerciais.
Que o Espiritismo possa ser difundido de forma ampla, acessível e livre. Qualquer outra tentativa de limitar esse fluxo é apenas um reflexo do apego humano ao poder e ao controle, algo que precisa ser superado para que a verdadeira essência da doutrina seja preservada e expandida.
O futuro da literatura espírita está na descentralização e na democratização do acesso às mensagens mediúnicas. A ideia de que só aquilo que é aprovado por determinadas instituições deve ser lido e aceito é um retrocesso que contradiz os princípios mais fundamentais da Doutrina.
Devemos romper com esse paradigma e incentivar a livre circulação das psicografias, confiando na capacidade de cada indivíduo de discernir e interpretar aquilo que lhe chega às mãos. O Espiritismo é uma doutrina de liberdade e conhecimento, não de monopólio e controle.