20 de abril de 2025

O Significado da Páscoa

Por O Redator Espírita
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O Significado Da Páscoa, Segundo O Espiritismo

Ao longo da história, as celebrações religiosas sempre guardaram relação com os ciclos da natureza, os marcos civilizatórios e os eventos espirituais considerados transcendentais por diferentes povos. Entre tais festividades, a Páscoa assume um papel de singular importância, tanto na tradição judaica quanto na cristã. Contudo, para o Espiritismo, que se estrutura sobre as bases da razão, da fé raciocinada e da imortalidade da alma, o significado da Páscoa não se resume aos simbolismos externos, mas mergulha em profundos valores espirituais e morais que atravessam os tempos.

O Significado Original Da Páscoa Judaica

A palavra Páscoa tem origem em dois vocábulos hebraicos: pasah, que significa “passar por cima”, e pessach, ou pasha, do grego, que indica simplesmente “passagem”. No contexto judaico, a Páscoa tem origem na história da libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, sob a liderança de Moisés. Este evento é narrado com profundidade no livro do Êxodo (capítulos 12 a 14), e se consagra na memorável travessia do Mar Vermelho.

Durante a celebração da Páscoa judaica, que se estende por sete dias, os israelitas recordam essa passagem histórica consumindo pães asmos (sem fermento) e carne de cordeiro, em lembrança dos alimentos que marcaram sua saída apressada do Egito. Além disso, a festa também remete à formação da nação judaica e à organização religiosa centrada no recebimento dos Dez Mandamentos, que constituem um código moral de validade universal e permanente, conforme destaca a própria Doutrina Espírita.

O Sentido Da Páscoa Cristã

Com o advento do cristianismo, a Páscoa passou a assumir um novo significado. Nas tradições católica romana e católica ortodoxa, celebra-se a ressurreição de Jesus, três dias após a sua crucificação, como relatado nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. A ressurreição do Cristo tornou-se o símbolo maior da vitória da vida sobre a morte, da esperança sobre a desesperança, e da imortalidade da alma.

Contudo, a data da celebração da Páscoa cristã foi motivo de debates durante os primeiros séculos da era cristã. No Concílio de Niceia, realizado no ano 325 d.C., definiu-se que a Páscoa cristã não poderia coincidir com a judaica. A Igreja de Roma passou a seguir o calendário Juliano para definir a data, enquanto algumas igrejas da Ásia Menor continuaram a se orientar pelo calendário gregoriano, o que provoca, até hoje, diferenças na datação da festividade entre as igrejas cristãs ocidentais e orientais.

Vale destacar que as igrejas reformadas, como a luterana, não fazem vinculações da Páscoa com a ressurreição do Cristo. Para esses grupos, a única ceia pascal válida é aquela celebrada por Jesus com seus discípulos na noite anterior à sua paixão, no contexto da própria Páscoa judaica. Assim, adotam uma interpretação simbólica mais ligada à vivência espiritual do que a um rito de datação fixa.

A Incorporação De Simbolismos Pagãos

É curioso observar que vários dos elementos simbólicos associados à Páscoa cristã atual têm origem em festividades politeístas da Antiguidade. Entre os povos da Europa e da Ásia Menor, a chegada da primavera era celebrada com rituais que exaltavam a fertilidade e a renovação da vida. Dentre esses costumes, destacam-se a pintura de ovos cozidos com cores diversas e a figura da lebre (mais tarde transformada em coelho), ligada ao culto à deusa nórdica Gefjun. Essa deusa era representada por uma lebre e cultuada como divindade da fertilidade e da predição do futuro.

No mundo anglo-saxão, a palavra “Easter” (Páscoa, em inglês) tem origem na deusa Astarte, também ligada à fertilidade e à fecundidade, mencionada na Bíblia como Astarote. Já nas línguas neolatinas, como o português, a palavra “Páscoa” deriva do grego “pascha”, o que aproxima mais o termo do seu sentido original de “passagem”.

O Espiritismo E O Sentido Da Páscoa

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, não celebra a Páscoa como festividade religiosa ritualística, mas compreende e respeita os simbolismos que a envolvem. Em conformidade com o Evangelho segundo o Espiritismo, o Espiritismo reconhece em Jesus o guia e modelo da humanidade, aquele que exemplificou a perfeição moral a ser alcançada por todos nós. “Jesus representa o tipo da perfeição moral que a Humanidade pode aspirar na Terra.”

A ressurreição do Cristo, dentro da visão espírita, não se compreende como retorno do corpo físico à vida material, mas como manifestação da imortalidade do Espírito. Após o desencarne na cruz, Jesus se manifestou em perispírito aos seus discípulos, fortalecendo lhes a fé e confirmando a continuidade da vida. Esta certeza, como relata o texto estudado, foi tão poderosa que transformou radicalmente a conduta dos primeiros cristãos. Eles passaram a anunciar com convicção a Boa Nova do Reino de Deus, inspirados pela certeza de que o Mestre prosseguia vivo, operoso, para além do sepulcro.

Neste sentido, a Páscoa, para o Espiritismo, é o marco simbólico da imortalidade, da transcendência do Espírito sobre a matéria, e da mensagem imperecível do amor e da justiça divina. Ao invés de uma celebração pontual, o Espiritismo propõe uma vivência constante do Evangelho, uma “Páscoa diária”, em que o seguidor da doutrina procura, em cada ação, testemunhar a presença do Cristo em si mesmo.

A verdadeira “passagem” é aquela que ocorre no íntimo do ser, na transição do homem velho para o homem novo, conforme indicava o apóstolo Paulo. É lançar fora o fermento da maldade e da malícia e colocar em seu lugar os asmos da sinceridade e da verdade, como exortava o mesmo Paulo em 1 Coríntios 5:8.

Considerações Finais

Em suma, o Espiritismo respeita profundamente as tradições da Páscoa, tanto no Judaísmo quanto no Cristianismo, mas apresenta um entendimento mais abrangente e espiritualizado de seus simbolismos. Valoriza a liberdade conquistada por qualquer povo, exaltando o exemplo de Moisés como missionário divino. Honra o código moral dos Dez Mandamentos como expressão da Lei Natural. Reconhece em Jesus o ser mais perfeito que já pisou a Terra, cujo exemplo deve ser seguido por todos que desejam a eleição da paz interior e da vida eterna.

Assim, os espíritas procuram viver a Páscoa em sua essência renovadora e transformadora, fazendo do cotidiano um altar de elevação moral, sem necessidade de rituais externos, mas com o compromisso da fé viva, operante e iluminada pela razão. Em cada gesto de caridade, em cada esforço de superação dos instintos inferiores, em cada renúncia em nome do bem comum, celebra-se, silenciosamente, a verdadeira Páscoa: a passagem do egoísmo à fraternidade, das sombras à luz, da ignorância à sabedoria.

Que possamos, todos os dias, afirmar com o apóstolo dos gentios:

“Fui crucificado junto com Cristo. Já não sou eu quem vivo, mas é Cristo quem vive em mim.” (Gálatas 2:20).