11 de junho de 2025

Pacto Diferente

Por O Redator Espírita
Avatar de O Redator Espírita

Pacto Diferente: União De Ideias; Sintonia De Sentimentos

Um estudo à luz da Doutrina Espírita com base na questão 549 de “O Livro dos Espíritos”

Muito se tem falado ao longo dos séculos sobre os chamados “pactos com o mal”. O imaginário popular, influenciado por lendas, superstições e até tradições religiosas mal compreendidas, construiu a figura do pacto formal com entidades malignas, representado muitas vezes por contratos escritos com sangue, selos ocultistas ou rituais obscuros. Porém, quando trazemos essa questão à luz da Doutrina Espírita, sob a orientação segura dos Espíritos superiores e da razão esclarecida de Allan Kardec, percebemos que a realidade é bastante distinta e, sobretudo, muito mais sutil do que imaginamos.

É sobre esse tema que nos debruçaremos neste artigo, analisando detidamente a questão 549 de O Livro dos Espíritos, a nota explicativa de Kardec e, especialmente, o comentário profundamente elucidativo do Espírito Miramez, contido na obra Filosofia Espírita. Exploraremos o verdadeiro significado do que Miramez chamou de pacto diferente, revelando que a verdadeira aliança entre o homem e os Espíritos se dá por meio da sintonia de ideias e identidade de sentimentos, e não por documentos ou promessas cerimoniosas.

O Mito do Pacto: Entre o Folclore e a Realidade Espiritual

Desde os primórdios da humanidade, as culturas sempre apresentaram alguma forma de representação do mal como uma entidade que seduz, corrompe ou oferece favores em troca da alma humana. O pacto com o diabo é um dos temas mais recorrentes na literatura e na tradição oral, tendo sido tratado por escritores como Goethe, no célebre Fausto, e por mitos e dogmas religiosos que, em muitos casos, serviram para amedrontar e controlar.

Na visão popular, esse pacto é entendido como uma troca: o indivíduo oferece algo — geralmente sua alma — em troca de poderes, riqueza, fama ou influência. Essa concepção, carregada de elementos simbólicos e dramáticos, não encontra respaldo na realidade espiritual tal como nos apresenta a Doutrina dos Espíritos.

A pergunta 549 de O Livro dos Espíritos é clara e direta:

Algo de verdade haverá nos pactos com os maus Espíritos?

Resposta dos Espíritos: “Não, não há pactos. Há, porém, naturezas más que simpatizam com os maus Espíritos…”

Logo de início, a resposta dissolve a lenda. Não há pactos no sentido formal, místico ou cerimonial. O que existe é uma identificação moral entre indivíduos de sentimentos semelhantes. A aproximação dos Espíritos inferiores aos encarnados não depende de papéis ou fórmulas, mas da vibração mental e emocional que emitimos.

A União de Ideias e a Sintonia de Sentimentos

O Espírito Miramez, ao comentar essa passagem na obra Filosofia Espírita, através da mediunidade de João Nunes Maia, oferece um novo olhar, mais profundo e, ao mesmo tempo, mais prático sobre a questão. Ele nos apresenta o conceito de “pacto diferente”, ao dizer:

“Entre os Espíritos, em relação aos homens de má índole, o pacto é diferente: é a união de ideias, é a sintonia de sentimentos.”

Essa frase contém em si um dos fundamentos mais importantes da influência espiritual: a lei de sintonia. Espíritos, sejam encarnados ou desencarnados, aproximam-se por afinidade. Essa afinidade pode ser nobre e elevada, aproximando-nos dos bons Espíritos, ou pode ser negativa, quando nossos pensamentos e sentimentos estão voltados para o egoísmo, o ódio, a vingança, a cobiça e demais paixões inferiores.

Essa união, portanto, é feita sem necessidade de invocação consciente ou pacto cerimonial. Basta desejar o mal para alguém — como diz a própria resposta da questão 549 — e já se estabelece a ligação com entidades espirituais que desejam o mesmo.

“O fato de o homem ficar, às vezes, na dependência dos Espíritos inferiores nasce de se entregar aos maus pensamentos que estes lhe sugerem e não de estipulação quaisquer que com eles faça.”

Nota de Allan Kardec

Aqui está o ponto essencial. Os Espíritos não nos obrigam ao mal; eles nos influenciam conforme aquilo que já cultivamos dentro de nós. Somos os imãs de nossa própria companhia espiritual.

O Verdadeiro Pacto: Quando o Pensamento é a Assinatura

Miramez aprofunda ainda mais o entendimento ao afirmar:

“Os papéis são os sentimentos, e as letras, o desejo…”

Esta metáfora extraordinária nos mostra que o verdadeiro contrato espiritual se dá no coração e na mente. Não se trata de um pacto visível, mas de uma escolha constante, consciente ou não, pelo bem ou pelo mal, feita em nossos pensamentos mais íntimos. O desejo é a tinta que assina esse contrato invisível.

Assim, todo aquele que cultiva sentimentos destrutivos, mesmo em silêncio e sem ação prática, já está em aliança vibratória com entidades equivalentes. Essas presenças tornam-se “parceiras” do indivíduo no mal, oferecendo ideias, intensificando sentimentos e se alimentando da energia gerada pelo ódio, ressentimento ou vingança.

“Aquele que intenta praticar uma ação má, pelo simples fato de alimentar essa intenção, chama em seu auxílio maus Espíritos, aos quais fica então obrigado a servir…”

O Livro dos Espíritos, questão 549

O Espírito inferior usa o pensamento como meio de aproximação, e se alimenta dele. E, por vezes, esse intercâmbio espiritual negativo se intensifica a tal ponto que se transforma em subjugação, obsessão e, nos casos extremos, em processos graves de desequilíbrio físico e mental.

Consequências Espirituais do Pacto por Sintonia

É preciso compreender que as consequências desse pacto por sintonia não são simbólicas, mas reais e profundas. Quando nos aliamos moralmente aos Espíritos inferiores, abrimos nossa psicosfera a influências danosas, que podem afetar:

Nossa saúde mental e emocional, gerando distúrbios de humor, ansiedade, impulsos destrutivos, depressão e irritabilidade constante;

Nosso comportamento, tornando-nos agressivos, intolerantes, materialistas ou obcecados por vingança e dominação;

Nosso destino espiritual, uma vez que atraímos para nós compromissos cármicos com os Espíritos que passamos a alimentar e sustentar por afinidade.

Miramez alerta com clareza:

“Aqueles que chamam os Espíritos maus pelas suas ideias… passam a ser devedores desses Espíritos, podendo ser cobrados a qualquer momento.”

É uma advertência séria. Ao alimentar o mal, tornamo-nos de alguma forma instrumentos de sua propagação, e com isso criamos laços espirituais que nos aprisionam. Muitas vezes, vemos médiuns ou pessoas sensíveis passando por provas dolorosas justamente por terem, em algum momento de suas vidas, sustentado alianças vibratórias com entidades inferiores.

O Antídoto: Como Romper o Pacto e Viver a Luz

Se o pacto é mental e emocional, o rompimento também será. Mudar o pensamento é romper o contrato. Como disse Miramez:

“Se queres Espíritos bons em tua companhia, pensa diferente, muda as atitudes para o bem comum… Nada existe no mundo da matéria que afaste Espíritos maus das pessoas, a não ser o seu modo de viver.”

Essa afirmação deveria ser escrita nas paredes de todos os centros espíritas e no íntimo de cada lar. Não é o ritual, o amuleto ou o símbolo que protege, mas o modo de viver.

Romper o pacto se faz por:

  • Reforma íntima contínua, ainda que lenta, mas constante;
  • Prece sincera, que liga o pensamento à espiritualidade superior;
  • Evangelho no Lar, como campo de luz e educação da alma;
  • Prática da caridade, que purifica os sentimentos e dissolve o egoísmo;
  • Vigilância constante dos pensamentos, pois eles são o campo da ação espiritual.

Como diz o Evangelho, citado por Miramez:

“Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 4:17)

A Lei de Retorno: O Mal Desejado Volta ao Emissor

Por fim, Miramez nos esclarece um princípio de justiça divina que não falha:

“Quando desejas o mal para tal ou qual pessoa, se esta não se encontra na faixa do mal… o pensamento volta para onde nasceu. Quem deseja o mal, é sempre visitado por ele…”

Essa é uma das leis mais perfeitas do Universo. O pensamento, ao sair de nós, busca sintonia, e se não a encontra, retorna com reforço energético para o seu emissor. Aquele que deseja o mal é o primeiro a sofrer seus efeitos. Isso explica o sofrimento silencioso de tantas almas mergulhadas na mágoa, no ódio, na perseguição obsessiva a outras pessoas.

O único caminho seguro é o amor. Como conclui Miramez:

“Somente o amor constrói; todos os homens sabem disso, só faltando que todos eles passem a viver o amor…”

Conclusão

O estudo da questão 549 de O Livro dos Espíritos, enriquecido pela nota de Allan Kardec e pelos comentários do Espírito Miramez, nos revela com clareza que o verdadeiro pacto com os Espíritos inferiores não se dá por meios mágicos ou formais, mas sim por afinidade vibratória, por sintonia mental e moral.

Essa união de ideias e sentimentos nos aproxima daqueles que compartilham nossas intenções, sejam elas nobres ou perversas. E a depender dessa escolha, construiremos laços de luz ou de sombras, que se refletirão diretamente em nossa saúde espiritual e em nosso futuro reencarnatório.

O pacto diferente é aquele que firmamos todos os dias, nas escolhas pequenas e grandes, quando pensamos, sentimos e agimos.

Que saibamos, pois, escolher a cada instante a luz, o amor e a caridade como companheiros de jornada, para que nossa sintonia se estabeleça com os benfeitores espirituais que nos inspiram e nos amparam. Esse é o único pacto que vale a pena assinar: o pacto com o bem, com Deus e com a própria consciência reta.