Permissão Divina para Espíritos Inferiores
Permissão Divina para Espíritos nos Excitarem ao Mal: Reflexões à Luz da Doutrina Espírita
A influência dos Espíritos no cotidiano dos encarnados é um dos temas mais profundos e complexos da Doutrina Espírita, abordado amplamente por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos. Uma das questões centrais que emerge dessa relação é: por que Deus, em sua infinita sabedoria e bondade, permitiria que Espíritos inferiores, ou Espíritos imperfeitos, excitassem os encarnados ao mal?
A questão 466 de O Livro dos Espíritos responde precisamente a esse questionamento, revelando a natureza pedagógica da provação e do livre-arbítrio no desenvolvimento espiritual.
Neste artigo, vamos explorar essa questão em profundidade, levando em consideração a resposta fornecida pelos Espíritos superiores, a nota explicativa de Allan Kardec e os ensinamentos do Espírito Miramez, todos eles convergindo para uma explicação profunda e racional do porquê da permissão divina para a influência negativa de Espíritos imperfeitos.
A Pergunta 466 de O Livro dos Espíritos: Uma Introdução ao Tema
A pergunta de Allan Kardec é clara e objetiva: “Por que permite Deus que Espíritos nos excitem ao mal?”. Em uma análise superficial, pode parecer contraditório que um Deus infinitamente bom e justo permita que Espíritos inferiores tenham influência sobre os encarnados, podendo desviar os indivíduos do caminho do bem.
No entanto, ao aprofundarmos o entendimento, percebemos que essa permissão divina se alinha perfeitamente com as leis universais da evolução, do livre-arbítrio e da responsabilidade moral. A resposta dos Espíritos superiores, que diz que “os Espíritos imperfeitos são instrumentos destinados a pôr-vos em tentação, para exercerdes o vosso livre-arbítrio”, é o primeiro passo para compreendermos essa dinâmica espiritual.
O Livre-Arbítrio: A Escolha Sempre Pertence ao Indivíduo
Um dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita é o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade de cada ser humano de fazer suas próprias escolhas e trilhar seu próprio caminho. Esse conceito está diretamente relacionado à permissão de Deus para que Espíritos inferiores nos influenciem.
Os Espíritos superiores explicam que Deus, ao permitir essa influência, nos oferece oportunidades de exercitar nossa vontade, discernir o certo do errado e, por fim, fortalecer nosso caráter moral. A presença de Espíritos que tentam nos desviar do bem não é um castigo, mas uma prova, uma oportunidade de crescimento.
Sem a possibilidade de escolha, sem a presença da tentação, não haveria mérito no bem que praticamos. Se fôssemos seres moralmente “blindados”, imunes a qualquer influência negativa, nosso progresso espiritual seria estagnado, pois o bem que realizássemos seria automático, sem esforço, sem a superação das próprias inclinações.
Por meio da influência dos Espíritos imperfeitos, somos levados a fazer escolhas conscientes. Cada vez que resistimos à tentação, estamos fortalecendo nossa vontade no bem e, ao mesmo tempo, refinando nossas virtudes. Esse processo é contínuo e faz parte da jornada evolutiva de cada ser humano.
A Função dos Espíritos Imperfeitos: Instrumentos de Provação
A resposta dada pelos Espíritos superiores na questão 466 também nos esclarece sobre o papel que os Espíritos imperfeitos desempenham no grande esquema da evolução. Eles não são “vilões” arbitrários, mas sim “instrumentos destinados a pôr-vos em tentação”. Essa perspectiva traz à tona a função educativa que esses Espíritos desempenham, tanto para eles mesmos quanto para os encarnados.
Os Espíritos imperfeitos, por ainda estarem presos às paixões, ao orgulho, ao egoísmo e a outros sentimentos inferiores, procuram satisfazer suas inclinações negativas influenciando os encarnados a cometerem os mesmos erros.
No entanto, sua atuação serve como uma espécie de “prova moral” para os encarnados. Deus, em sua sabedoria, utiliza esses Espíritos como agentes de tentação, não para nos prejudicar, mas para nos proporcionar experiências que nos desafiem a usar o discernimento, resistir ao mal e escolher o bem.
Essa dinâmica pode ser comparada à de um estudante que, ao longo de sua formação, é desafiado por provas e testes. As dificuldades que enfrenta o ajudam a desenvolver habilidades e conhecimento. Da mesma forma, as influências negativas que enfrentamos no plano espiritual nos impulsionam a desenvolver virtudes como a paciência, a perseverança e o discernimento.
As Leis Universais da Afinidade e da Sintonização
Outro aspecto essencial para compreender a permissão divina para a influência dos Espíritos inferiores é o princípio da afinidade espiritual. Conforme explicam os Espíritos superiores, nenhum Espírito imperfeito consegue nos influenciar sem que haja, em nós, uma predisposição ou sintonia para tal.
Isso significa que os Espíritos inferiores atuam sobre nossas fraquezas, nossos vícios e tendências morais inferiores. Eles são atraídos por nossos pensamentos, desejos e sentimentos que vibram na mesma faixa de suas imperfeições. Assim, a influência dos Espíritos inferiores revela mais sobre nós mesmos do que sobre os Espíritos em si.
A doutrina espírita nos ensina que estamos constantemente emitindo e recebendo vibrações, de acordo com o estado íntimo de nossa alma. Quando alimentamos pensamentos e sentimentos elevados, como o amor, a caridade e a compaixão, entramos em sintonia com Espíritos superiores, que nos auxiliam e nos inspiram no caminho do bem.
Por outro lado, quando nos deixamos levar pelo ódio, pelo orgulho ou pela ganância, atraímos para nós Espíritos que compartilham dessas mesmas vibrações e que procuram nos desviar do bem.
Portanto, a presença de Espíritos imperfeitos ao nosso redor não é fruto de uma decisão arbitrária de Deus, mas sim o resultado de nossas próprias escolhas e atitudes. Deus nos permite viver essas experiências como uma forma de despertar nossa consciência para a importância de cultivarmos pensamentos e sentimentos mais elevados.
A Nota de Allan Kardec: O Espírito de Justiça e a Responsabilidade Pessoal
Na nota que segue à resposta dos Espíritos, Allan Kardec enfatiza um ponto crucial: a responsabilidade pessoal. Ele nos lembra que, embora os Espíritos inferiores possam nos tentar, a escolha de ceder ou resistir a essas influências é sempre nossa. Deus nos concede a liberdade de escolher entre o bem e o mal, e cada um de nós é responsável pelas consequências de suas escolhas.
Kardec reforça que, ao ceder às más influências, o indivíduo não pode atribuir a culpa exclusivamente aos Espíritos que o tentaram, pois esses apenas exploraram suas próprias inclinações.
A responsabilidade pelo erro recai sobre aquele que escolheu praticá-lo. Isso coloca o ser humano no centro de sua jornada evolutiva, com total liberdade para determinar seu destino espiritual, mas também com total responsabilidade por seus atos.
Essa visão é profundamente justa e coerente com os princípios da doutrina espírita. Deus, sendo infinitamente justo e bom, jamais imporia aos seus filhos sofrimentos ou provações desnecessárias. Todas as dificuldades que enfrentamos, incluindo as influências espirituais negativas, são oportunidades de aprendizado e crescimento, e o uso que fazemos dessas oportunidades depende exclusivamente de nós.
Os Ensinamentos de Miramez: O Papel Transformador do Amor e da Oração
O Espírito Miramez, em seu comentário sobre a questão 466 presente na obra “Filosofia Espírita”, traz uma abordagem amorosa e compassiva para lidar com as influências dos Espíritos imperfeitos. Ele nos ensina que, ao invés de temermos ou rejeitarmos esses Espíritos, devemos compreendê-los como seres em processo de evolução, assim como nós.
Segundo Miramez, os Espíritos imperfeitos ainda estão presos às ilusões e às paixões do mundo material, e sua influência sobre os encarnados reflete sua própria ignorância espiritual. No entanto, ao invés de combater essas influências com ódio ou resistência, somos convidados a lidar com elas com amor e compaixão.
Miramez nos lembra que, assim como nós estamos em processo de aprendizado e evolução, os Espíritos inferiores também estão, e eles precisam do nosso auxílio para despertar para a luz.
A oração, nesse contexto, se apresenta como uma poderosa ferramenta de transformação, tanto para nós quanto para os Espíritos que nos influenciam. Ao orarmos por aqueles que nos tentam, estamos enviando-lhes vibrações de paz, amor e luz, que podem ajudá-los a despertar para o bem. Ao mesmo tempo, a oração fortalece nossa própria alma, elevando nossas vibrações e nos protegendo das influências negativas.
Miramez também enfatiza a importância do autoconhecimento e da vigilância espiritual. Devemos estar constantemente atentos aos nossos pensamentos, sentimentos e ações, para que possamos identificar e corrigir as inclinações negativas que podem atrair Espíritos inferiores. O trabalho de reforma íntima, segundo Miramez, é o caminho mais eficaz para nos libertarmos dessas influências e nos aproximarmos cada vez mais da luz.
As Influências Negativas Como Oportunidades de Progresso Espiritual
Ao final de sua análise, Miramez nos lembra que as influências negativas, longe de serem obstáculos intransponíveis, são oportunidades valiosas de progresso espiritual. Cada vez que resistimos à tentação de ceder ao mal, estamos fortalecendo nossa vontade no bem e dando um passo em direção à perfeição moral.
A Doutrina Espírita nos ensina que a jornada evolutiva é feita de desafios e provações, e a presença dos Espíritos inferiores é uma parte natural desse processo. Eles nos oferecem a chance de exercitar nossa fé, nossa paciência e nossa perseverança no caminho do bem.
Portanto, ao invés de temer ou rejeitar a influência dos Espíritos imperfeitos, devemos encará-la com coragem e determinação, sabendo que cada desafio superado é um passo a mais em nossa caminhada espiritual.
Conclusão: A Sabedoria da Permissão Divina
A permissão divina para que Espíritos inferiores nos influenciem ao mal não é um castigo ou uma punição, mas sim uma expressão da justiça e da sabedoria de Deus. Ao permitir que enfrentemos essas influências, Deus nos oferece a oportunidade de crescer, de desenvolver nossas virtudes e de nos aproximarmos da perfeição moral.
O livre-arbítrio, a afinidade espiritual e a responsabilidade pessoal são os pilares que sustentam essa dinâmica. Cada um de nós é chamado a fazer suas próprias escolhas, e é por meio dessas escolhas que traçamos nosso destino espiritual.
A Doutrina Espírita, em sua profundidade e clareza, nos oferece as ferramentas necessárias para lidar com essas influências. A oração, o autoconhecimento, a vigilância espiritual e o amor ao próximo são os meios pelos quais podemos nos proteger das influências negativas e, ao mesmo tempo, auxiliar os Espíritos que ainda se encontram presos às sombras a encontrarem o caminho da luz.
Que possamos, com humildade e determinação, enfrentar as provações que nos são apresentadas, confiantes de que, ao final de nossa jornada, colheremos os frutos de nossa perseverança no bem.